segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Cidadão do Mundo !



Saí de casa dia 3 de fevereiro de 2015 com um monte de expectativas. Eu tava indo estudar por 6 meses em uma boa universidade da Espanha e iria poder vivenciar um pouco a realidade europeia. Coisa que sempre me brilhou os olhos. O que eu não sabia era que o destino guardava pra mim muito mais do que isso. Essa experiência não seria só uma linha a mais no meu currículo profissional, seria um capitulo de ouro na minha autobiografia. Daquela data em diante eu viveria os melhores momentos da minha vida em um espaço de tempo tão curto quanto um conto de fadas, o que na realidade, ainda me parece. Meus dias nunca tinham sido tão intensamente vividos. Nem nos meus melhores sonhos eu poderia imaginar sequer 10% do que se fez realidade. Se eu me propusesse a escrever um livro agora, acho que não seria capaz de expressar tudo de modo minimamente justo, então queria apenas compartilhar aqui com vocês alguns flashes que eu considero mais importantes dessa minha fugaz-mágica-trajetória-universitária-européia-viajante-inesquecível.

Caí de paraquedas em Granada, a cidade que me escolheu. Choque de realidade total; e de temperatura também (fazia 7° negativos). Nas minhas primeiras horas na cidade conheci a galera que faria parte da minha experiência Erasmus até o final. O grupo “Solo una cerveza”. Saudações, moçada, vocês moram no meu coração. A universidade era um sonho e eu estava só na instituição que mais recebe intercambistas de toda a europa. Resultado: Um impacto cultural gigantesco, eu diria que foi até brutal. Os ‘bares de tapas’ viraram a minha casa e os “botellones” minha rotina quase diária. Em um só dia eu vivia tanta coisa que ia dormir pensando que já tinha passado uma semana. Não existia hora pra deitar. 4 da manhã ainda estávamos começando a festa. Na verdade, acho que nunca dormi tão pouco na vida como nesses 6 meses. Granada é uma cidade que nunca para, e claro, eu como parte integrante desse ambiente também não podia parar.

Entre um botellon e outro montamos um grupo de samba. Sambaycín. Que certamente vai ficar marcado na história do Erasmus-Granada-2015. Estreamos na MaeWest (casa cheia), tocamos na praia, no centro da cidade, na estrada, nos ônibus e nos apartamentos. Levamos música brasileira aos ouvidos de muita gente; e apaixonamos os gringos com o melhor da nossa cultura tão miscigenada. Foi uma das coisas mais incríveis que eu já fiz. Irmãos-bambas, obrigado por tantos momentos indescritíveis.

Como se isso não bastasse pra cessar a minha sede da ‘carreira musical’, fui convidado, com meu projeto solo (MatheusFonseca), pra tocar durante todo o verão em uma rede de restaurantes no norte da Espanha (Galícia – Baiona), mas por conta das viagens acabei fechando o contrato só pra 18 dias. A carga horária não importava, foi o tempo suficiente pra de fato realizar o meu sonho de viver da música, e acabou acontecendo de uma forma que eu nunca imaginei: sozinho (voz e violão) e na europa.

Quando eu achei que não dava mais pra ter melhores experiências ou pra ser mais completo do que já era, comprei uma mochila de 65L e me joguei na estrada. Esse também era um grande sonho que eu precisava realizar nesse meu momento tão histórico. Na coragem, na raça, sozinho, sem falar inglês e sem muito dinheiro. Fui buscar a mim mesmo em diversas partes do mundo. Por onde passei plantei gentileza e colhi muito carinho. Irlanda, Escócia, Inglaterra, Itália, Grécia, Espanha, Marrocos, Portugal, França, Holanda, Alemanha, República Tcheca, Áustria, Hungria. Literalmente levei a casa nas costas, e definitivamente voltei com a mala transbordando de experiências incríveis e de histórias pra contar.

Enfim, eu poderia falar de muitas outras coisas, mas os detalhes eu prefiro contar ao vivo pra quem quiser me ouvir, de preferência tomando uma cerveja estupidamente gelada no meu Rio de Janeiro. Mas não posso deixar de dizer aqui, como um grito que sai do fundo peito, com o coração cheio de amor e os olhos transbordando de lágrimas: “Yo soy de Graná!”. Essa é a frase que sempre resumiu o nosso Erasmus. E agora, depois dessas tantas voltas Europa a fora eu acho que posso dizer que também “Sou do mundo inteiro”.

Aprendi a falar “Andalú”, mergulhei na cultura espanhola, me apaixonei pelo flamenco, virei chefe de cozinha da minha casa, conheci gente do mundo inteiro, fiz amigos de todos os continentes do mundo, bebi em quase todos os bares da cidade de Granada, perdi meu celular na escócia, paguei 15 reais numa garrafa d’água em París, dei minha comida à um mendigo no UK, me perdi no metrô de Londres, cantei bossa nova com um músico de rua no centro de Roma, descobri que a segunda língua oficial em Dublin é o português, experimentei os cogumelos de Amsterdam, chorei de dor no muro de Berlín, lavei a alma no mar mediterrâneo, vi as consequências tristes da crise na Grécia, assisti ao pôr do sol em cima de um camelo no deserto do sahara, ganhei uma família na Alemanha e fiquei impressionado com a beleza das mulheres do leste europeu.

Ajudei e fui ajudado. Hospedei e fui hospedado. Ensinei samba e aprendi salsa. Sorri e me sorriram de volta. Cantei e fiquei encantado com isso. Já toquei em festas, praças, boates, restaurantes. Viajei de ônibus, trem, avião e blablacar. Já dormi em hotel, em aeroporto, no chão e até na rua. Já fui turista, viajante, mochileiro e os três ao mesmo tempo. Uma vez, quase morri de tanto beber, e já quase morri de tanta sede também. Já comi em lugares caríssimos, e já contei moedinhas pra comprar um pão. Já estive em Londres, mas preferi Marrakech. Cheguei muito perto do ápice do luxo, mas gostei mais de beber com os hippies no chão da praça. Experimentei o bom e o ruim, e fico com os dois. Entre o pobre e o rico, eu escolho ser aquele que leva a humildade no coração e o sorriso nos lábios. O que eu quero da vida é que ela me surpreenda todos os dias.

Hoje, depois desse tempo fora, depois de ter conhecido 13 países da Europa e um pedaço da África, sinto que posso opinar sobre algumas concepções sociais e políticas, as quais o meu país ainda tem muito o que aprender. Não sou ninguém pra ensinar nada, mas sou discípulo de Gandhi e concordo que a mudança começa por dentro. Acredito que posso ajudar a mudar o mundo compartilhando minhas experiências com as pessoas mais próximas de mim, como vocês que me leem agora, e tiveram a paciência de chegar até aqui.

Lá no dia 3 de fevereiro, a pouco mais de 6 meses atrás, eu saí de casa com um grande sonho: virar cidadão do mundo. Agora voltando, reflito sobre isso e me pergunto o que seria exatamente a definição desse conceito. No meu entendimento, ser cidadão do mundo é se isentar dos preconceitos, absorver rupturas culturais, conhecer pessoas novas, falar outros idiomas, se aventurar por destinos absolutamente desconhecidos, tocar o invisível, fazer da vida uma entrega diária, vivenciar cada país como se fosse o seu, andar a pé pelas cidades, conversar com os nativos, não se guiar por mapas e esquecer das tecnologias por um tempo consideravelmente longo até o ponto onde você descobre que o segredo do universo está verdadeiramente nas pessoas. Seja no riso sincero de uma criança ou no conselho conservador de uma freira idosa. Não sei se tudo isso me faz de fato o tal “cidadão do mundo” que eu sempre quis ser, mas na verdade, nesse momento, isso já não importa. Eu levo por dentro, entre o peito e as costas as dores e alegrias que me cabem e sou o que o mundo, com suas tantas facetas, fez de mim; e me apresento aqui apenas como parte integrante dessa grande bola azul que gira na tentativa de encontrar uma posição perfeita no universo que é infinito, mas limitado, segundo Einstein.


Me dizia um grande mestre que eu tive aos 18 anos: “Matheus, essa coisa de ser o que se é ainda vai levar a gente muito além”. Perfeito, professor. O caminho me trouxe até aqui. Agradeço a Deus por tantas bênçãos, e posso dizer: Combati o bom combate, terminei a carreira e guardei a fé. Amém.

Matheus Fonseca Pinheiro

11 comentários:

  1. Era tudo o que eu precisava ler pra não desanimar agora. Sensacional!

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  2. Que a alegria dessa conquista hoje, fique para sempre em você. A sua conquista vai impulsionar outras buscas e abrir novos horizontes, sempre apontando para um futuro muito luminoso.Merecidamente venceu, e hoje os aplausos são todos para você.O talento, a força de vontade e a persistência trouxeram você a esta conquista. Parabéns! Espero que esta vitória seja o início de muitas outras que virão.
    Sucesso sempre!! Beijos

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Sensacional!! Você chega no momento em que eu me mudo pra SP. Imagino quanto coisa tu tem pra contar. Provavelmente não terei tempo de ouvir todas as histórias nos dias que se seguem, mas pela graça de Deus um dia ei de ouvi-las. Segue firme, irmão. O Senhor seja contigo. Espero que as próximas experiências sejam ainda mais edificantes do que essas últimas.

    "Então o anjo do Senhor veio, e assentou-se debaixo do carvalho que está em Ofra, que pertencia a Joás, abiezrita; e Gideão, seu filho, estava malhando o trigo no lagar, para o salvar dos midianitas.
    Então o anjo do Senhor lhe apareceu, e lhe disse: O Senhor é contigo, homem valoroso.
    Mas Gideão lhe respondeu: Ai, Senhor meu, se o Senhor é conosco, por que tudo isto nos sobreveio? E que é feito de todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o Senhor subir do Egito? Porém agora o Senhor nos desamparou, e nos deu nas mãos dos midianitas.
    Então o Senhor olhou para ele, e disse: Vai nesta tua força, e livrarás a Israel das mãos dos midianitas; porventura não te enviei eu?"
    Juízes 6:11-14

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  5. Adorei seu texto Matheus,aproveite sempre as oportunidades e siga em frente buscando sua felicidade.

    Parabéns!!!!?

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  6. Adorei seu texto Matheus,aproveite sempre as oportunidades e siga em frente buscando sua felicidade.

    Parabéns!!!!?

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