quarta-feira, 20 de junho de 2012

Dois era par!



As coisas se alternam permanentemente, e no entrelaço destas linhas tão frágeis, o improvável se faz tangível, mas a cor dos olhos pode não ser o cheiro da flor. Assim como a lua não cria seu próprio reflexo, e apesar da água não correr para cima a agitação das moléculas é quase o bastante para interferir quimicamente na física que há entre nós, ou fisicamente na química dos nossos desenganos.

As passarelas são feitas para nos levar de um lado ao outro sem risco. Mas basta que uma folha seca entre na trajetória do caos para que a ordem se estabeleça apenas parcialmente. Eu não me distingo entre essas duas dimensões. O máximo que posso fazer é inquietar, de forma que estando inerte, não interfira no fluxo natural das coisas.

Mas e se os seguimentos de reta não forem paralelos, e se cruzarem antes do infinito? Seria aí o ápice da felicidade ou o fundo do poço da intolerância? São muitas as especulações e poucas as convicções. Entre as nossas perspectivas para uma estável relação de par existem muitas análises mal terminadas e nenhuma síntese fatídica. E dessa maneira, sendo tudo tão instável, eu me desapego e reconheço o fracasso.

Do arrependimento, apesar disso, não levo nem um punhado. O caminho só é feito quando se caminha. Se, por um lado, houve equívoco na estrada escolhida, por outro, houve certeza na linda escolha de se caminhar. Os pássaros vão cumprir sempre o seu papel de cantar, os sapos vão repetir sempre seu costume de pular, e o amor vai ter, por fim, sempre seu destino imutável de acabar. E enquanto houverem palavras, eu vou escrever pra te lembrar: “Capitolina, Dois era par”.

Matheus Fonseca Pinheiro

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Deixei alguns livros na sua casa...


Deixei alguns livros na sua casa e preciso voltar pra buscá-los. Se a minha presença for te incomodar muito, pode deixar com o porteiro que na terça eu passo pra pegar. São aqueles que estão no lado direito da cômoda, ou pelo menos estavam, até a noite em que eu fui embora.

Eu até poderia deixá-los aí mas tenho certeza de que não vão ter utilidade pra você, a não ser que a mesinha da sala esteja em falso. Sei que não gosta muito de temas que causam reflexão. A propósito, comprei um livro do Sartre e tenho passado as noites longe de ti, na agradável companhia dele. Parei numa parte interessantíssima, na qual me identifiquei de imediato, onde ele diz que a vida não faz sentido.

Tenho percebido isso ao longo destes meses, saboreando o gosto amargo da sua ausência. E tenho me posto à prova diversas vezes durante o dia, de modo a conter algumas atitudes impensadas, que podem trazer consequências infelizes. Mas não perco a vontade. Vontade essa, por ora, de elucidar, ou afundar com desprezo, o amor; de ressaltar lástimas e tédio que me trazem dor; de reescrever lamúrias pra curar a solidão; de pedir aos céus e esperar no chão.

Eu precisaria avançar mais um pouco no livro pra descrever pra você o que realmente estou sentindo. Mas se como diz Schopenhauer o amor é tão banal e imbecil, não faz sentido o esforço do discurso e muito menos a saudade do que nunca aconteceu... Enfim, de qualquer maneira, eu quero meus livros de volta. São seis. Um do Boff, dois do Paulo, um da Simone de Beauvoir e os outros dois eu não lembro. Assim como fiz questão de esquecer também que você foi por três anos e sete meses a mulher da minha vida.

Matheus Fonseca Pinheiro