Hoje, dia de São Jorge, o santo guerreiro, a gente se
despede também de um grande guerreiro. Marcos Ferreira Pinheiro, 60 anos. Filho
de dona Elizabeth e seu Daniel. Teve 3 irmãos, 4 filhos (sendo 3 registrados),
e sem dúvida, mais de mil mulheres.
Um rapaz extremamente carismático e brincalhão nascia no Rio
de Janeiro no dia 8 de fevereiro de 1953. No berço de uma família humilde, dono
de um senso de humor fora de série, Marcão dizia que havia passado da sua
infância até a pré-adolescência comendo Caruru, e por isso, quem o conheceu bem
sabe, que ele tinha aversão a qualquer prato que levasse esse
acompanhamento. Teve uma adolescência
incrível que rendeu diversas histórias fantásticas, as quais eu tive o prazer
de ouvi-lo contar inúmeras vezes. Por volta dos vinte e poucos anos, teve a felicidade do
nascimento do seu primeiro herdeiro, que além de tudo, carrega o seu próprio
nome, Marcos Vinícius Pinheiro, Marquinho.
Um pouco mais velho
viajou para Recife a fim de conhecer o nordeste e tentar uma vida diferente por
lá, mas logo na chegada acabou se apaixonando por uma nordestina milionária com
quem viveu por 4 anos. Segundo ele, foi uma das maiores oportunidades que ele
teve de se dar bem na vida, financeiramente falando. No entanto, por diversos motivos, Marcão acaba voltando pro
Rio e conhecendo a mulher, que segundo ele próprio disse, amou até o fim da sua
vida.
Casaram-se em outubro de 89, e dois anos depois, nascia o seu segundo
filho, Matheus Fonseca Pinheiro. Mas como sempre, Marcão, como era chamado, com
o seu perfil pouco responsável, desprendido de tudo, orgulhoso e independente,
acabou botando a perder, no fim, seu sonho de vida conjugal. Saiu de casa, com a falsa sensação de cabeça erguida, cego
pelo orgulho e pela soberba, e como um bêbado que não sabe o que faz, jogou
fora dinheiro, carros, família, amigos... dignidade e um dos bens mais
valiosos do mundo, a saúde.
Até que por volta dos seus 40 anos, encontra uma nova mulher,
que o ajuda a mudar de vida e de perspectiva, dando a ele, seu terceiro filho,
Pablo Pinheiro. Infelizmente, foi mais um de seus tantos relacionamentos que
não deram certo. De fato, esse seu jeito de não se deixar enquadrar, de nunca
se submeter a uma vida de rotina, acabou levando-o a viver momentos
extremamente solitários, de muita felicidade ilusória e muitas dores não
compartilhadas.
Como se não bastasse, lá pelas tantas, quando o cotidiano já não era mais tão
ativo, e a barriga já não o deixa mais fazer filho, ele teve uma notícia fantástica
que passaria a ser mais uma conquista na sua trajetória: O nascimento do seu
primeiro neto, que também levaria o seu nome: Marcos Gabriel Pinheiro.
Em resumo, viveu a vida da forma mais intensa possível. Teve
tudo e perdeu tudo. Teve nada, e fez desse pouco algo demasiadamente valioso.
Conheceu milhares de pessoas, fez amigos em todas as esquinas que passou, teve
amores em todos os cantos da cidade, bebeu em todos os bares que viu. Deu
muita gargalhada, e fez também muita gente sorrir. No fim da vida ele se dizia
satisfeito, por que ao contrário daqueles que escolhem viver 1000 anos a 10 km
por hora, ele escolheu viver 10 anos a 1000 km por hora.
Tratava cada um com um
carinho especial e amava todos de uma maneira própria. Esse gordo falante, com
um cavanhaque e uma maneira de ser, muito peculiar, vai deixar saudades em toda
parte, e a única coisa que ele pedia, quando morresse, era o respeito pela sua
imagem, e a oração daqueles que realmente o amaram algum dia em sua vida.
No dia 23 de abril de 2013, dia do Guerreiro, eu me despeço de um dos maiores guerreiros que já conheci em toda a
minha vida. Agradeço muito a ele por tudo o que me ensinou e por todos os
momentos que compartilhou comigo. É triste saber que ele não vai estar presente
na minha formatura na faculdade, nem no aniversário dos meus filhos, mas tenho
certeza que, de hoje em diante, nós temos mais alguém lá de cima para interceder
por nós.
Obrigado meu pai, por me fazer orgulhoso em ser seu filho.
Vai com Deus.
Eu amo você!
Matheus Fonseca PINHEIRO