domingo, 22 de dezembro de 2013

Na Travessa do Leblon ...






Nos conhecemos na Travessa. Ela procurava um romance dentre a sessão de ‘Literatura Estrangeira’, e eu esperava na fila da maquininha pra consultar o preço do livro que o professor de Finanças Públicas tinha indicado. Ela passou os olhos em volta, só por costume, mas me notou no meio de tantas pessoas no mínimo tão esquisitas quanto eu; e aí, nesse momento, saber o valor do livro já era secundário pra mim, eu só queria encontrar alguma forma de dizer meu nome e ganhar seu telefone. Tarefa árdua, para uma tarde de quarta-feira dentro de uma livraria.

No fim de semana seguinte dividimos um sorvete na Atlântica e eu à convidei pra ver a Sessão Cult Especial do Odeon que estrearia às 20h. Ninguém menos que Richard Gere e Julia Roberts estariam nas telonas. Estratégia “Pretty Women”, sempre infalível. Mas confesso que dessa vez não foi bem como eu esperava; a única coisa que eu ganhei foi um beijo no rosto quando nos despedimos na portaria do prédio dela.

Daí em diante, nossos encontros foram mais descontraídos, sem muitas formalidades. Conhecemos juntos a Floresta da Tijuca, almoçamos pão com linguiça, vimos o pôr do sol da areia da nossa praia favorita e andamos de bike de mãos dadas no Aterro. Jantamos no Marius Degustare, viajamos pra esquiar na Patagônia, brincamos de guerra de neve em Londres e ouvimos reggae às 4:20 no Sana. Passamos o fim de semana mais divertido das nossas vidas em Búzios. Ficamos no camarim do Gil no carnaval em Salvador. Trocamos alianças de fidelidade no Xingú e fomos abençoados pelo Cacique da tribo local: juramos amor eterno e fomos consagrados pelos Deuses.  


É engraçado lembrar de tudo isso agora, porque foi tão forte que eu realmente achei que seria pra sempre. Não sei se você vai ler esse texto, ou se vai conseguir entender na essência tudo o que eu disse aqui. Talvez você lembre remotamente de cada um dos fatos que eu descrevi, e ao menos reflita sobre algum; talvez tenha mais o que fazer nessa próxima semana - sei como são essas coisas dos ‘preparativos’. Mas o fato é que eu vou demorar um bom tempo pra me acostumar com a ideia de que depois de anos, juntos, pra construir uma vida, você joga fora de vez a minha aliança Nauquá de madeira, no próximo fim de semana, substitui por uma dourada com brilhantes e sobe no altar, pra ser pro resto dos dias, a mulher da vida de outro cara.  

Matheus Fonseca Pinheiro

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A Thousand Miles


Milhas de distância separam você do meu abraço, e, na verdade, é um pouco mais do que isso. Eu mal exponho a minha voz quando nos falamos, são tantas coisas rotineiras pra dizer, tantas novidades repetidas pra contar, que prefiro apenas ouvir você e as suas histórias engraçadas, lugares mágicos e experiências interessantes da cidade daí. Fico olhando a sua foto pra amenizar o aperto do peito, mas esses artifícios não funcionam muito comigo – nada substitui o seu cheiro e o seu sorriso de ‘garota levada da breca’.

Deve estar frio por aí, né? Eu imagino. Mas saiba que aqui, longe do seu colo, também tá, viu?! Hoje, segundo a previsão do tempo, aqui na cama fez -3°C , com sensação térmica de ‘volta logo pra cá’, e a tendência, disse a mulher do Jornal Nacional, é que continue assim até o fim de semana. Haja cobertor pra espantar a solidão.

Do Skype eu já desisti, sério. Quando eu preciso ouvir um ‘boa noite, e bom trabalho amanhã’, dita pela sua voz de nenenzinho-zé-manuel, a internet cai – é impressionante; e eu fico aqui indignado com essa Lei de Murphy que vive sempre online, atrapalhando a vida dos namorados à distância. Mas tá tudo bem, você tem aí uma longa noite das suas férias pra curtir e eu, aqui, uma rotina estressante, na empresa, amanhã pra cumprir.

Enfim, chororôs à parte, aproveita bastante, por você e por mim, mas volta pra cá antes do sol se pôr no sábado? Prometo que faço uma mistureba legal pra a gente comer junto, e preparo um filminho do Tarantino, já que você adora. Tá difícil pagar a tarifa do interurbano, mas essa noite eu te ligo pra dizer ‘Te Amo’, antes de dormir, ok? Só tem uma condição: Sábado, depois do filme, você tem que fazer a mesma coisa... mas no meu ouvido, e deitada do meu lado. 

Matheus Fonseca Pinheiro

quarta-feira, 17 de julho de 2013

"Se Enlouquecer, Não Case!"


Eu nem deveria estar aqui falando esse monte de coisas desconexas e fazendo julgamentos um tanto tolos demais... já foi o tempo em que eu era importante pra você, eu sei. Mas não pude conter minha decepção quando vi a sua última alteração do facebook. Você está noiva daquele imbecil?

Eu realmente não acredito. Pra começar, eu não tenho mesmo nada a ver com a sua vida - cada um carrega sua cruz - mas pelo pouquinho de afeto que ainda me resta por você, não consigo entender essa tolice (e acho que nunca vou conseguir). O idiota te traia com todas as garotas do bairro, passava noite e dia dando em cima da sua melhor amiga e te deixando sempre em segundo plano e você quer me convencer agora que engoliu à seco tudo isso e vai casar? Ah, me poupe dessa sua mania de se contentar com pouco.

Eu cansei de acordar de madrugada contigo me ligando desesperada, aos prantos, pra desabafar a respeito de mais uma cagada que esse tal de Henrique tinha feito, e você, no fim das contas, ainda se culpava dizendo que talvez não fosse uma boa namorada e que tinha nascido com o dom de ser traída... Daí eu tecia diversos elogios a seu respeito e te enchia de dengos, pra levantar sua autoestima e tentar te acalmar no meio da noite, e, no dia seguinte, já estava tudo bem: Você mandava uma mensagem agradecendo pela conversa e dizendo que tinha saído pra almoçar com ele depois de um buquê de rosas e um pedido de desculpas.

Na boa, eu até consigo compreender o quanto deve ser difícil largar um namoro onde você mesma se constituiu como mulher. Foi, de fato, seu primeiro namorado, então, bem ou mal, tudo o que você entende de amor, paixão, sexo, etc, descobriu ao lado dele, mas pra casar aos 20 anos sem nem mesmo ter noção do que é felicidade em uma relação de par, ou você enlouqueceu de vez, ou está grávida.

Eu poderia ter sido mais que um amigo de abraços e conselhos, se você tivesse deixado as coisas fluírem de forma natural, lembra? - às vezes me arrependo de não ter te arrancado a força dos braços dele – mas você fez sua escolha e pagou o preço por isso. Queria muito te ver feliz ao lado de alguém que te desse valor de verdade, mas se escolheu ficar com esse babaca pra sempre é porque a felicidade não é uma das suas prioridades. - Boa sorte!

O último pedido que eu lhe faço, em nome da paz, é que não me mande convite para a cerimônia. Você me conhece bem o bastante pra saber que eu não suporto fingimento, então quando o padre perguntasse se existia alguém contra o matrimônio, tenha a certeza de que eu não ficaria calado.

Matheus Fonseca Pinheiro

domingo, 23 de junho de 2013

Quarta Lei de Newton !


...dedicado à "Paulista"

Eu deveria ter ouvido a minha mãe, quando ela disse que ‘amor de praia não sobe serra’. Paixão de carnaval não preenche coração - isso é Capitolina. Ao som de axé, em Ouro Preto, você foi só mais um garoto bonito que eu beijei, mas hoje, para o bem ou para o mal, a história é completamente diferente ...

Eu não poderia imaginar naquela noite, que estaria de quatro por você alguns meses depois - acredite, se eu soubesse, não teria te dado a mínima condição. Mas rolou um lance, um clima, cê sabe, e eu deixei pra ver no que ia dar. Tempos depois, cá estamos nós, de volta ao Rio de Janeiro, com algumas pendências e discrepâncias que nos fazem extremamente diferentes, mas, por outro lado, com corpos e olhares tão sincronizados que mesmo agindo, às vezes, dessa sua maneira idiota, eu não consigo te mandar embora.

Coerência não é o seu forte, né?! Já percebi. Você diz que é pra a gente dar tempo ao tempo, que não quer se prender, e o legal mesmo é curtir o momento, mas reclama se eu pilho de ir pra Choppada com os amigos da faculdade. Não foi você mesmo, quem deixou subentendido que ninguém é dono de ninguém? De coração, eu não espero que você seja o Don Juan, e banque sempre ‘o último romântico’, mas exijo o mínimo de bom senso na hora de pôr as cartas na mesa. Comigo tem que ser jogo limpo.

Se é só da minha bunda que você gosta, tudo bem, ‘eu posso aceitar isso e o meu coração continua aberto’, como diria aquele seriado do SBT, mas não vêm na segunda feira, com aquele blábláblá de ciuminho, dizendo que eu passei o fim de semana inteiro pulando de bar em bar sem te responder no Watzap, porque, mêu, na boa, não vai colar. Tá na hora de seguir a cartilha que reza.

Você deixou escapar esses dias que, não sabe se o nosso lance vai ter futuro, porque não me vê sendo a mulher da sua vida. Eu, particularmente, tento viver sem me prender à esses tipos de pensamentos ortodoxos, mas se você realmente decidir ir embora, eu não tenho o direito de te amarrar. Claro que vai doer bastante quando eu lembrar de tudo, porque nas tardes que gente rola no quarto a sós, por debaixo dos lençóis, o universo para. Seu cheiro, seu jeito de pegar atrás do meu cabelo, meio forte, carinhoso, me olhando nos olhos, meche comigo de uma maneira mágica. Eu tô mesmo fissurada nessa sua ginga carioca, cheia de “Bixcoitos” e “DCÉ’s”.  

Se preferir ficar, a casa é sua. Vai ter tudo o que quiser de mim, e você sabe bem que eu não me entrego pela metade. Agora se, de fato, resolver encerrar as coisas por aqui, e levar embora sua escova de dente, tá tudo certo, pô: Vida que segue. Já derramei algumas lágrimas meio involuntárias ontem, pensando nisso, mas esses sentimentalismos baratos não levam ninguém a porra nenhuma. Eu sou meio orgulhosa, meio turrona, saca? (Geminianas). Mas daqui a um tempo, a gente se vê de novo, numa boa. Porque no nosso caso, meu bem, o que vale é a, tão famosa, quarta lei de Newton: Tudo o que vai, volta.

Matheus Fonseca Pinheiro

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Nada Vai Dar Certo!


A vida tem dessas coisas, né?! De puxar o tapete quando a gente está distraído. De tirar a cadeira exatamente no momento que nos preparamos pra sentar. Porque eventualmente não importa o quão preparado você esteja ou o quanto de experiência acumulou para chegar ali e fazer tudo da forma correta: o destino prega peças, e se o universo não conspira a seu favor, não se preocupe, nada vai dar certo.

O que me causa desconforto e um grande sentimento de desamparo é saber que a mãe da oportunidade é a sorte, e não o mérito. O mérito, talvez seja o pai, tudo bem, porque é claro que em algumas ocasiões ele te salva, mas um olhar um pouco mais atento, indubitavelmente vai te fazer perceber que sem a sorte a gente não dá nem o primeiro passo, muito menos consegue seguir a diante, e menos ainda, tem a graça de alcançar o objetivo esperado.

Onde se compra sorte? Como é que a gente pode conseguir um potinho? Dá pra fazer estoque e usar de vez em quando, ou é perecível?

Do jeito que as coisas estão por aí, acho que é melhor largar a faculdade, parar de fazer esses milhares de cursos inúteis e fugir das balelas que nos empurram, de goela abaixo, de que a melhor maneira pra chegar onde se quer é capacitando-se cada vez mais. Ao invés disso, é mais fácil sair por aí procurando alguma tribo indígena que plante sorte. Pra eles, pode ser que signifique só uma planta, mas aqui na cidade, é diferente. Um punhadinho de sorte pode te garantir trabalho, salário e carreira. Por outro lado, entretanto, a falta dela te conduz para além do fracasso, na grande maioria das vezes.

Matheus Fonseca Pinheiro

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Eduardo e Mônica !



Você diz que é Pop-music, que gosta de balada aos sábados, tipo Barra Show. Eu faço um estilo mais vintage, curto barzinho,  rock in roll. Você se apresenta extravagante, sorrisão largo, sem cerimônia. Eu sempre fui mais tímido, ‘cê sabe’, meio calado, cara de quem tem insônia. Você é toda assim, topa tudo, tudo é festa, não tem conversinha, não tem modéstia. Eu faço o velho, fico na minha, prefiro casa, sala-TV-cozinha. Você ama a Beyonce, eu ouço Beatles.  Você diz que é mais você, eu me resumo a títulos. Você faz publicidade, respira criatividade, odeia rotinas. Eu trabalho com números, com chatos, trancado entre quatro cortinas. Você é pura felicidade, alegria, leveza. Eu sou mais contido, menos exuberante, mas compenso na gentileza. Você é linda, eu sou cinza. Você é simpática, minha cara é apática. Você é semi-perfeita, eu sou de direita. Você é ‘Assim’, eu sou ‘Enfim’.

Você chama pra curtir, eu te convido pra dormir. Você diz que quer dançar, eu te levo pra jantar. Você fala de noitada, eu respondo ‘que nada’. Você diz: ‘Vamos sair’, eu retruco, ‘Vem aqui pra casa’.

Você: Já cansei de tudo disso!
Eu: Eu quero mais que compromisso!
Você: Ah tá, até parece, não quero mais, tô fora!
Eu: Aliás, a quanto tempo a gente já namora?
Você: Se você não lembra, sou eu que tenho que saber?
Eu: É, porque eu trouxe um presente pra você.
Você: Não quero, sei lá, acho melhor a gente se afastar.
Eu: Ei, espera só um pouquinho, sei que vai gostar.
Você: Poxa, eu te amo e você sabe disso, mas a nossa relação tá parecendo de amigo!
Eu: Ei, garota, me escuta com calma: Por um acaso, quer casar comigo?


Matheus Fonseca Pinheiro

terça-feira, 23 de abril de 2013

Meu Guerreiro !




Hoje, dia de São Jorge, o santo guerreiro, a gente se despede também de um grande guerreiro. Marcos Ferreira Pinheiro, 60 anos. Filho de dona Elizabeth e seu Daniel. Teve 3 irmãos, 4 filhos (sendo 3 registrados), e sem dúvida, mais de mil mulheres.

Um rapaz extremamente carismático e brincalhão nascia no Rio de Janeiro no dia 8 de fevereiro de 1953. No berço de uma família humilde, dono de um senso de humor fora de série, Marcão dizia que havia passado da sua infância até a pré-adolescência comendo Caruru, e por isso, quem o conheceu bem sabe, que ele tinha aversão a qualquer prato que levasse esse acompanhamento. Teve uma adolescência incrível que rendeu diversas histórias fantásticas, as quais eu tive o prazer de ouvi-lo contar inúmeras vezes. Por volta dos vinte e poucos anos, teve a felicidade do nascimento do seu primeiro herdeiro, que além de tudo, carrega o seu próprio nome, Marcos Vinícius Pinheiro, Marquinho.

Um pouco mais velho viajou para Recife a fim de conhecer o nordeste e tentar uma vida diferente por lá, mas logo na chegada acabou se apaixonando por uma nordestina milionária com quem viveu por 4 anos. Segundo ele, foi uma das maiores oportunidades que ele teve de se dar bem na vida, financeiramente falando. No entanto, por diversos motivos, Marcão acaba voltando pro Rio e conhecendo a mulher, que segundo ele próprio disse, amou até o fim da sua vida. 

Casaram-se em outubro de 89, e dois anos depois, nascia o seu segundo filho, Matheus Fonseca Pinheiro. Mas como sempre, Marcão, como era chamado, com o seu perfil pouco responsável, desprendido de tudo, orgulhoso e independente, acabou botando a perder, no fim, seu sonho de vida conjugal. Saiu de casa, com a falsa sensação de cabeça erguida, cego pelo orgulho e pela soberba, e como um bêbado que não sabe o que faz, jogou fora dinheiro, carros, família, amigos... dignidade e um dos bens mais valiosos do mundo, a saúde.

Até que por volta dos seus 40 anos, encontra uma nova mulher, que o ajuda a mudar de vida e de perspectiva, dando a ele, seu terceiro filho, Pablo Pinheiro. Infelizmente, foi mais um de seus tantos relacionamentos que não deram certo. De fato, esse seu jeito de não se deixar enquadrar, de nunca se submeter a uma vida de rotina, acabou levando-o a viver momentos extremamente solitários, de muita felicidade ilusória e muitas dores não compartilhadas.

Como se não bastasse, lá pelas tantas, quando o cotidiano já não era mais tão ativo, e a barriga já não o deixa mais fazer filho, ele teve uma notícia fantástica que passaria a ser mais uma conquista na sua trajetória: O nascimento do seu primeiro neto, que também levaria o seu nome: Marcos Gabriel Pinheiro.

Em resumo, viveu a vida da forma mais intensa possível. Teve tudo e perdeu tudo. Teve nada, e fez desse pouco algo demasiadamente valioso. Conheceu milhares de pessoas, fez amigos em todas as esquinas que passou, teve amores em todos os cantos da cidade, bebeu em todos os bares que viu. Deu muita gargalhada, e fez também muita gente sorrir. No fim da vida ele se dizia satisfeito, por que ao contrário daqueles que escolhem viver 1000 anos a 10 km por hora, ele escolheu viver 10 anos a 1000 km por hora. 

Tratava cada um com um carinho especial e amava todos de uma maneira própria. Esse gordo falante, com um cavanhaque e uma maneira de ser, muito peculiar, vai deixar saudades em toda parte, e a única coisa que ele pedia, quando morresse, era o respeito pela sua imagem, e a oração daqueles que realmente o amaram algum dia em sua vida.

No dia 23 de abril de 2013, dia do Guerreiro, eu me despeço de um dos maiores guerreiros que já conheci em toda a minha vida. Agradeço muito a ele por tudo o que me ensinou e por todos os momentos que compartilhou comigo. É triste saber que ele não vai estar presente na minha formatura na faculdade, nem no aniversário dos meus filhos, mas tenho certeza que, de hoje em diante, nós temos mais alguém lá de cima para interceder por nós.

Obrigado meu pai, por me fazer orgulhoso em ser seu filho.

Vai com Deus.

Eu amo você!

Matheus Fonseca PINHEIRO

sexta-feira, 29 de março de 2013

Não Enlatado !



Eu não faço biquinho no instagram. Não gosto de beber big-maçã. 
Não posto fotos do meu almoço. Não tenho um símbolo do infinito no pescoço. 
Não fumo maconha pra relaxar. Não ouço só as músicas que a rádio tocar. 
Não ando com uma bolsa da Tommy. Não faço coração com a mão, sou “homi”. 
Não uso Abercrombie nem Hollister. Não acho que é tirar onda andar de Veloster. 
Não compro roupa pela etiqueta.  Não vejo nas mulheres só uma bolseta. 
Não bebo pra disfarçar alegria. Não assisto filmes pelo sucesso de bilheteria. 
Não namoro pra trair. Não prefiro sempre mentir. 
Não posto pra onde eu vou sair. Não preciso de um Iphone pra sorrir.

Eu não vou me vender, nem me deixar comprar.

Desculpe, mas eu não me permito enlatar!


Matheus Fonseca Pinheiro

sábado, 9 de março de 2013

Expresso, Como o Café!



Dentro da cidade, tudo corre rápido demais. Os carros, o trem, o relógio, as pessoas. Aqui tudo é assim, expresso, como o café. Eu queria ser ex-pressa, sabe? Pra não ter que fazer parte dessa massa de indivíduos que andam sempre atrasados, esbarrando uns nos outros sem pedir desculpas e dizendo bom dia sem olhar nos olhos. O problema é que eu sou componente do majoritário grupo de assalariados que se amontoam nos ônibus do centro às 7 da manhã em busca de um vale compras pro fim do mês. E pra sobreviver nesse ambiente, eu devo, de fato, me integrar inteiramente a ele.

Um grande professor meu, eventualmente nos questionava, em sala de aula, assim: “O que você faria se não tivesse medo?”. É, realmente ... faria muita coisa, mas eu proponho uma pergunta ainda melhor: O que você faria se não tivesse pressa? Porque você vai concordar comigo que a pressa é muito mais recorrente que o medo, e nos impede de fazer diversas coisas nas quais o medo não exerce nenhuma influência, certo? Exemplo: Ler um livro, ir a praia, tomar uma cerveja, assistir um filme, etc. são tarefas que o medo, por si só, não te impediria de fazer (na maioria dos casos) mas a pressa sim. E, cá pra nós, ela sempre impede.

Que fique claro, eu não estou tentando iniciar aqui uma série de argumentos que, no frigir dos ovos, desembocarão num pequeno protesto contra o modo de produção capitalista exaltando o mundo igualitário, onde todas as pessoas devem gozar dos mesmos benefícios e trabalhar menos, de modo a não ter que alimentar a parcela da mais valia, e blá-blá-blá. Não. Pelo contrário. Eu visto a camisa do “I Love Capitalism”. Sou fascinado pelo estudo de maximização de lucros e pela teoria da produtividade marginal. Mas o que eu sinceramente acho, é que não devemos ser robôs.

Somos de carne e osso, movidos a incentivos, paixões, emoções. Que trabalhemos muito, mas que seja feito com amor. Que realmente cheguemos no fim do dia mortos de cansados, mas cientes do resultado do nosso esforço. O velho Chaplin já dizia “Não sois máquinas, homens é que sois”. Que sejamos, portanto, homens e mulheres com o coração maior que as pernas, com os olhos mais ligados que os celulares, com a vida real mais interessante que a virtual, e aí sim, finalmente, com o saldo de felicidade bem maior que o financeiro.

Avalie objetivamente o custo-benefício das horas extras em reuniões desimportantes. A cidade te oferece bem mais que o café frio do escritório e o trânsito caótico das 6 da tarde. Da próxima vez que for sair por aí, tire os fones do ouvido, levante a cabeça ao caminhar, olhe nos olhos das pessoas, aproveite a brisa no rosto e observe em silêncio tudo aquilo que você nunca viu. Quem sabe, a partir daí, você passe a enxergar a vida de um modo mais apaixonante, como aconteceu comigo desde ontem.

Matheus Fonseca Pinheiro

sábado, 5 de janeiro de 2013

Ela faz Cinema!



Então amigos, me ajudem, por favor!

Eu não faço a menor ideia de como chegar naquela garota. Ela se mostra tão assim, autossuficiente, cheia de atitude, saca? Eu travo dos pés a cabeça, sempre que me aproximo dela mais de dez metros. Já pensei em simular uma encontroada no corredor, ou fingir confundi-la com uma amiga, sei lá, mas a coragem nunca me sobra e eu fico só olhando... com aquela cara de idiota hipnotizado, que diga-se de passagem, me é muito peculiar!

E se por um acaso eu perguntar a opinião dela a respeito da nova película do Almodóvar? Ou comentar por alto da cena mais famosa da carreira do Tarantino, a dança em "Pulp Fiction" com o Travolta. Vai parecer muita forçação de barra? Eu poderia convidá-la para assistir a análise crítica de “A Pele que Habito” que vai rolar na semana que vem, lá no prédio de Psicologia... se ela topar eu juro que passo o fim de semana inteiro pesquisando características que possam relacionar Woody Allen com Scorsese.

Não me considero bem um cinéfilo, nem tenho muito vocabulário pra versar neste campo, então a minha estratégia é desviar as atenções pra outro tema o mais rápido possível. Quem sabe ela gosta de música francesa? Aí eu me arrisco um pouco mais. Se ela permitir faço até uma palinha com o violão e um cigarro de palha atrás da orelha: Seria meu Xeque-mate. As garotas comuns não resistiriam, mas se tratando dela eu ainda não tenho essa certeza.

Posso assobiar a trilha sonora de “Meia Noite em Paris” amanhã, quando for convidá-la para o evento da terça que vem. Se ela sorrir com aquele tom de que conheceu a melodia eu pergunto se ela gosta da Carla Bruni. Pode ser uma boa forma de aproximação, não acham? Além do mais, me ajudaria a definir se a armadilha da seresta à francesa, de fato, funcionará com ela ou se eu preciso pensar num plano B. De todo modo, se faltar assunto eu lanço aquela, ao meu ver, infalível: “Jú, o que você achou do Michel Hazanavicius como o melhor diretor no Oscar do ano passado?” -  essa pergunta é sempre polêmica e traz uma discussão demasiadamente extensa entre os estudantes de cinema.

... e, bom, enquanto ela justifica seu ponto de vista com todos aqueles gestos e opiniões formadas, eu ganho tempo pra ficar ali pensando no melhor jeito de beijar a boca mais linda da faculdade!

Matheus Fonseca Pinheiro