domingo, 4 de dezembro de 2016

Efeito Dom Casmurro



Acho que sofro do efeito "Dom Casmurro", e se eu não voltar às minhas sessões com o psicanalista as coisas podem ir de mal a pior. Bom, pra quem não lembra, Dom Casmurro é a obra prima, e talvez o livro mais famoso de Machado de Assis, escritor brasileiro do século XIX que revolucionou a nossa literatura nacional. O livro conta a história de amor entre Bentinho e Capitu, e se desenrola num relato autoral do Casmurro (bentinho) num imbróglio de interpretações infinitas a respeito de se Capitu cometeu adultério, traindo-lhe com seu melhor amigo, ou se tudo isso não passa de expressões (ou projeções?) de um ciúme exagerado, corroborado  por desconfianças sem sentido e justificado por uma fixação insana com Capitu, por parte de seu marido; agravado logicamente pelo senso machista possessivo burguês daqueles tempos.

Sempre fui apaixonado por essa obra e pela construção literária dela, e acredito que isso tenha feito com que em minha vida houvessem alguns capítulos tão parecidos com os dela, e até surpreendentemente descritos em algumas de suas páginas. Confesso que já fui vítima de uma Capitu, se é que posso cunhar o termo "vítima" nessa situação. Mas o fato é que, uma menina-mulher, de olhos de cigana oblíqua e dissimulada quase me fez mudar os rumos da vida. Foi pivô de um forte abalo numa relação madura e sólida que tive, e talvez tenha alguma parcela de culpa também em seu final. Hoje, anos depois de tudo o que aconteceu, ainda me lembro daqueles olhos e do seu jeito de manipular meu sorriso e enfeitiçar meu coração; de modo tão suave que eu sequer pudera perceber tamanho era seu poder de impacto sobre mim.

Mas a verdade é que hoje vivo um outro lado do Dom Casmurro; já não faço mais a leitura tradicional de que bentinho seja o marido perfeito amaldiçoado com uma esposa adúltera. Bentinho é, no frigir dos ovos, um idiota machista de ciúmes possessivos e insanos que só consegue ver na mulher o que ele mesmo é. Dito isso, amigos, assumo: Bentinho, hoje, sou eu.

Sou casado com uma mulher maravilhosa. Linda, inteligente, carinhosa, independente e de sucesso. Todos esses atributos pra mim eram suas melhores características, e foi por eles que eu me apaixonei quando a escolhi pra mãe dos meus filhos. Mas parece que eles viraram ao avesso, e cada uma dessas qualidades agora tem sua conotação negativa, e eu honestamente não estou sabendo lidar com isso.

Eu sei que ela é linda, mas porque tinha que ser tanto? Os caras olham, né, comentam, e quem sabe até jogam uma piadinha ou outra quando eu não tô por perto. Fico num curto-circuito-ciumático interno quando ela sai sozinha e eu fico em casa porque tenho que trabalhar no dia seguinte. A cabeça pensa tanta besteira que eu tomo até remédio pra dormir logo. Porque tão inteligente? As vezes eu reclamo de alguma coisa, absolutamente convicto da minha razão, e depois de ouvi-la por 3 minutos me sinto um completo imbecil por ter dito o que disse e pensado o que pensei. Ela é carinhosa, e eu gosto disso, mas é até demais! Podia ser só comigo, mas porque tem que ser com os amigos também? Eles estão bem, não precisa ligar pra saber. Se tiverem algum problema, deixe que eles resolvam sozinhos ou com suas devidas namoradas, ou sei lá o quê, não precisa dar colinho e cafuné. Não precisa abraçar demais, sair todo dia pra tomar café ou cozinhar o prato que ele gosta pra janta quando ele vem pra comer. Isso ainda não entra na minha cabeça como normal, e acho que não vai entrar nunca.

E olha que eu não falei da independência, porque se isso foi um dia algo que me brilharam os olhos por ela, hoje faz a minha cabeça fritar. Eu sei que ela me ama, mas não depende de mim pra nada, e não sei se isso tá certo. Talvez seja porque em muitos momentos necessito que ela esteja comigo, pra me ajudar, me aconselhar bem, me ajudar na decisão a ser tomada, ou qualquer outra coisa do cotidiano normal, mas pra ela eu sirvo no máximo pra esquentar o edredom na hora do filme e pro sexo matinal de todo dia.

Talvez eu esteja exagerando. Bom eu acho que no fundo estou exagerando... mas esse processo me vem de forma natural, e justamente porque faço nela uma projeção de mim mesmo. E aí está o problema de toda essa situação de merda. Tenho ciúme das cantadas que ela leva, porque já levei algumas e o resultado foi sexo. Minhas vísceras dão um nó por dentro quando ela curte a night sozinha porque já cansei de ver meus amigos e minhas amigas traírem o namorado em ocasiões assim. Já transei com dezenas de amigas, e não consigo ver a amizade dela com aqueles caras como algo despretensioso e fraternal (Será que eu tô viajando muito?). Enfim, o problema da minha visão sobre ela é justamente a minha visão sobre mim mesmo. Sobre como levei minha vida antes que ela chegasse, e sobre como se desenvolveram as minhas experiências. Por isso preciso de ajuda. Não quero estragar um casamento por ser neurótico, alucinado, burro e adúltero. Talvez ela merecesse alguém melhor do que eu, e é esse cara que eu quero me tornar.

Bom, chega! Era isso. Desabafo feito. Acho que eu tô enlouquecendo. Aos poucos. Num conflito interno do meu lado sensato e puro contra minhas concepções sujas e mesquinhas. Acho que preciso abrir o jogo com ela também. Falar de tudo o que eu disse aqui. Vai ser importante, né? É, acho que isso pode ser positivo pra nós ...

Mas sabe o que é pior? É que ela vai me entender, me dar razão, e tentar encontrar um equilíbrio que nos faça estar bem novamente. Como sempre faz. Vai fazer isso porque ela é foda, e sempre me surpreende, me ensinando uma lição nova a cada dia. Eu amo aquela mulher!!! Amo muito. Certamente mais do que esse ciúme-bentinho-insano que tenho por ela e aquele lindo par de peitos.

Matheus Fonseca Pinheiro


sábado, 16 de janeiro de 2016

Sagitária !





Eu sei que a gente não tem nada. Bom, a gente tem uma troca de olhares incrivelmente sincronizada, uma sintonia de sorrisos fora do comum e alguma coisa meio inexplicável que nos faz estremecer quando estamos perto um do outro. E isso, convenhamos, não pode ser definido como “nada”; a maioria dos casais que estão juntos por aí não tem metade da nossa compatibilidade, mas tem pelo menos um relacionamento, nós não, e foi por isso que eu comecei o texto assim, definindo nosso caso como não existente. No fundo ele existe, mas não acontece. Enfim, a situação real é essa: no frigir dos ovos, entre nós dois, hoje, não rola absolutamente nada, nunca rolou e, honestamente não sei dizer se algum dia vai rolar, porque cada vez que eu vejo uma declaração sua pro seu “namorado-perfeito” penso que os olhares, os sorrisos e o ‘alguma coisa inexplicável’ que eu citei lá em cima, são comportamentos unilaterais. Nesse caso, de mim pra você, mas que a contrapartida disso só existe de verdade na minha cabeça.

Sonhei contigo hoje (e não foi a primeira vez). Eu passava na sua casa pra te pegar pra sair, e conversava com a sua mãe na cozinha enquanto você terminava de se arrumar. Vocês tinham acabado de chegar lá de Sorocaba e ela me contava das travessuras dos seus primos no feriado. No momento em que eu ria das histórias, você entra, linda, deslumbrante com aquela saia longa de cintura alta esverdeada que eu adoro e diz "vamos?", com esse sorriso desconcertante que faz meus olhos brilharem. Eu elogio seu cabelo, você agradece, se despede da sua mãe, e a última coisa que eu me lembro é de ter ganho um beijo seu antes de chamar o elevador. 

Era sonho, né, claro, bobagem, eu tava só dormindo; mas eventualmente fico sonhando acordado com esses momentos mágicos, sabia? Me pergunto quando é que eu vou poder pegar na sua mão sem ter que disfarçar pra ninguém ver, ou quando te chamar, sem receios, pra correr comigo na orla e tomar uma água de côco no seu José vendo o pôr-do-sol alaranjado escurecer da areia. Quero aceitar seu convite pra ir à praia do sossego, mas poder dizer que prefiro ir só contigo, sem sua melhor amiga de contrapeso. E assumir, de uma vez por todas, que as aulas de dança que eu sugeri são só um pretexto inteligente pra sentir seu perfume mais de perto, e poder, ainda que por alguns minutos, atestar a sincronicidade dos nossos corpos num ritmo de constante envolvimento, sentindo a minha barba arranhar a sua bochecha.

Todas as noites eu te mando uma mensagem antes de dormir, e deito fantasiando cenas de uma relação impossível, que só pode virar realidade se você assumir pra si mesma que a gente tem tudo pra dar certo. Nós sabemos perfeitamente que o que tá acontecendo não é um encantamento pontual e passageiro, e que não vai desaparecer de hoje pra amanhã, meu bem, mas se a sua decisão continuar sendo a ‘indecisão’ eu posso apostar que não demora muito pra a gente perder o timing (se isso já não tiver acontecendo). E aí sim, vai ser o ponto final de um romance que nem começou; e o que sobra sempre nesses casos é só a dúvida (cruel e infinita) de “como seria se tivesse sido?”.

Querida, eu só queria que você tivesse um pouco mais de coragem pra seguir seu coração. Às vezes eu sinto que te falta atitude pra se posicionar de forma decisiva, e a maturidade, nesse momento, faz uma enorme diferença. Você pode dizer pra mim que a sua “síndrome do macaco gordo” te venceu e que prefere ficar parada no mesmo galho velho ao invés de conhecer o resto da floresta. Eu vou entender, e mesmo achando que você tá errada, vou embora, sem questionar, acreditando que você tenha boas razões pra essa escolha. Mas, por favor, não acaricia a minha mão, nem enrosca suas pernas nas minhas debaixo da mesa se realmente não quiser ficar comigo; não diz que meu sorriso te deixa meio ‘bobinha’, nem que a minha presença te faz acelerar o coração, se não vai escolher estar do meu lado de verdade; não me encara desse jeito que só você sabe, sorrindo e cheia de paixão nos olhos se não tá afim de viver uma relação verdadeira, e de corpo inteiro.

Eu estou a beira de me apaixonar, e assumo isso, mas me recuso a continuar vivendo um sonho sozinho. Você tem o que quiser de mim, eu já te disse, mas não vou continuar aqui disponível sempre que te for conveniente, sinto muito. Eu não mereço ser o reserva, e não quero ocupar esse lugar. Estive em modo 'Stand by' esperando por você até agora, mas me dei conta, no sábado, que seu namorado te faz muita falta, né, e que não há distancia que separe um amor verdadeiro, afinal. Tá certo, belas palavras, eu concordo contigo; e talvez isso tenha sido um sinal pra que eu me afaste aos poucos, antes de sofrer por uma coisa que nunca existiu.


Mas, cá entre nós, digo do fundo do meu coração idiota, confuso e atordoado: se ainda tiver procurando um parceiro de vida e viagem, de tapioca e chocolate, sushis e medalhões à piamontese, França e Espanha, trilhas e praias paradisíacas, Kelly key e Maroon 5, Blueberrys e brigadeiros de nutella, Natiruts e nascer do sol, Moscou e Nepal, sorvete de flocos e brigadeiro de panela,  Sana e Ilha Grande, bungeejumping e paraquedas, Ilhas Fiji e Cancún, vinhos baratos e um porco de estimação, diz de uma vez por todas que me quer como seu camera-man, e que me escolhe pra compartilhar os momentos mais divertidos e inesquecíveis dos seus vinte e poucos anos, de tanto charme e simpatia.

Matheus Fonseca Pinheiro