Dentro da cidade, tudo corre rápido demais. Os carros, o
trem, o relógio, as pessoas. Aqui tudo é assim, expresso, como o café. Eu
queria ser ex-pressa, sabe? Pra não ter que fazer parte dessa massa de
indivíduos que andam sempre atrasados, esbarrando uns nos outros sem pedir
desculpas e dizendo bom dia sem olhar nos olhos. O problema é que eu sou componente
do majoritário grupo de assalariados que se amontoam nos ônibus do centro às 7
da manhã em busca de um vale compras pro fim do mês. E pra sobreviver nesse
ambiente, eu devo, de fato, me integrar inteiramente a ele.
Um grande professor meu, eventualmente nos questionava, em
sala de aula, assim: “O que você faria se não tivesse medo?”. É, realmente ...
faria muita coisa, mas eu proponho uma pergunta ainda melhor: O que você faria
se não tivesse pressa? Porque você vai concordar comigo que a pressa é muito
mais recorrente que o medo, e nos impede de fazer diversas coisas nas quais o
medo não exerce nenhuma influência, certo? Exemplo: Ler um livro, ir a praia, tomar
uma cerveja, assistir um filme, etc. são tarefas que o medo, por si só, não te
impediria de fazer (na maioria dos casos) mas a pressa sim. E, cá pra nós, ela
sempre impede.
Que fique claro, eu não estou tentando iniciar aqui uma
série de argumentos que, no frigir dos ovos, desembocarão num pequeno protesto
contra o modo de produção capitalista exaltando o mundo
igualitário, onde todas as pessoas devem gozar dos mesmos benefícios e trabalhar menos, de modo a não ter que alimentar a parcela da mais valia, e blá-blá-blá. Não. Pelo contrário. Eu visto a camisa do “I
Love Capitalism”. Sou fascinado pelo estudo de maximização de lucros e pela
teoria da produtividade marginal. Mas o que eu sinceramente acho, é que não
devemos ser robôs.
Somos de carne e osso, movidos a incentivos, paixões,
emoções. Que trabalhemos muito, mas que seja feito com amor. Que realmente
cheguemos no fim do dia mortos de cansados, mas cientes do resultado do nosso
esforço. O velho Chaplin já dizia “Não sois máquinas, homens é que sois”. Que
sejamos, portanto, homens e mulheres com o coração maior que as pernas, com os
olhos mais ligados que os celulares, com a vida real mais interessante que a
virtual, e aí sim, finalmente, com o saldo de felicidade bem maior que o
financeiro.
Avalie objetivamente o custo-benefício das horas extras em
reuniões desimportantes. A cidade te oferece bem mais que o café frio do
escritório e o trânsito caótico das 6 da tarde. Da próxima vez que for sair por
aí, tire os fones do ouvido, levante a cabeça ao caminhar, olhe nos olhos das
pessoas, aproveite a brisa no rosto e observe em silêncio tudo aquilo que você nunca
viu. Quem sabe, a partir daí, você passe a enxergar a vida de um modo mais
apaixonante, como aconteceu comigo desde ontem.
Matheus Fonseca Pinheiro