quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

É Hora de Parar de se Contentar com Pouco!



Ok, nem precisa dizer nada, deixa por minha conta, vamos ver se eu ainda sei ler seus pensamentos. Você tem medo de arriscar seu relacionamento de anos com aquele babaca que só te faz sofrer por uma aventura incerta comigo e acabar sozinha. Acertei? Pois então, isso realmente pode acontecer, mas sinceramente falando, da forma que a gente se trata e do jeito que a gente se gosta, as probabilidades de darem errado são tão pequenas que, se as minhas aulas de estatística me ensinaram alguma coisa, tá valendo muito a pena arriscar.

Essa coisa de continuar investindo em um relacionamento desgastado só pela tal submissão à comodidade é loucura. Você merece bem mais que isso. Não que eu seja o melhor homem da face da terra, tô longe de ser, mas tenho certeza que nunca vou lhe decepcionar ao ponto de te fazer derreter em lágrimas num sábado à noite após uma declaração bombástica, te deixando pensar que és a pior pessoa desse mundo - Sim, isso foi uma indireta.

Meu anjo, olha pra frente, se liberta dessas correntes que te prendem à inércia. A gente tem muita coisa pra fazer juntos. Eu quero te levar na pedra do Arpoador pra tocar aquela velha canção; quero caminhar no calçadão de mãos dadas conversando sobre as voltas que vida dá; quero deitar na grama da Quinta da Boa Vista ao teu lado pra contar histórias engraçadas. Enfim, fazer tudo aquilo que sempre sonhei em fazer com alguém que fosse, de fato, muito importante pra mim, como você é.

Larga esse imbecil que usa cueca da Reserva e vamos saltar de parapente do Parque da Cidade. Um dia ao meu lado vai te fazer sorrir muito mais do que um ano ao lado dele. Vocês já estão juntos a bastante tempo, tá na hora de parar de se contentar com pouco! Você é linda, inteligente, simpática, madura, carinhosa, extrovertida, meiga ... não esqueça nenhuma destas suas peculiaridades. Eu sei que ele nunca te lembra nada disso, ao contrário, mas eu faço questão de ressaltar que a única coisa que falta em você é ser feliz. 

E a hora é agora. A gente tem a oportunidade de começar isso juntos desde já. Topa ?

Matheus Fonseca Pinheiro

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

"Esperando na Viela!"



“Hoje faríamos 3 anos juntos. E como quem esperava te ver, talvez, com a esperança de que esta data também fosse importante pra você, voltei àquele lugar onde a gente costumava se encontrar nos sábados às escondidas. Fiquei uma hora e vinte minutos sentado no banco, e quando o sol começou a se pôr eu percebi que você não viria mais...”

Foi dolorida a sensação de entender que você realmente não sente mais nada... eu não estava preparado para isso. Todas as meninas que viravam a esquina em minha direção me pareciam você, num primeiro instante. Como se meu cérebro, por intervenção do inconsciente, te enxergasse em todos os rostos femininos durante o tempo em que fiquei ali esperando. Era agonizante a ansiedade pra te ver. Mas você não deve ter lembrado... afinal, são muitas datas para memorizar, não é?

Você sempre foi melhor do que eu nesse lance de datas comemorativas, mas ainda me lembro de todas: O primeiro encontro, o primeiro beijo, a primeira transa, o primeiro Reveillon... até o primeiro presente. A propósito, ainda é o tênis que eu mais uso, sabia? Você conhecia como ninguém o meu gosto pra roupas. Sabia de cor as minhas preferências. Hoje, acho que não se recorda nem do meu telefone. Mas tudo bem, deve fazer parte da sessão de coisas que você fez questão de esquecer. 

Eu sonhei contigo essa semana e pensei que fosse um sinal do destino pra eu aparecer lá, na viela, como nos velhos tempos, e te encontrar exatamente no dia 8 de agosto. Faria muito sentido. Mas como você mesmo me adjetivava, eu sou apenas um sonhador romântico. Nunca deveria ter ido. Não deveria ter, sequer, acreditado que os sonhos são missionários divinos com a tarefa de fazer com que o destino seja cumprido.

Essa coisa de destino é escrita a lápis e a gente tem borracha, caneta e autonomia para reescrevê-lo da forma que julgar mais conveniente. Você fez isso... reescreveu, mas esqueceu de me comunicar.


Matheus Fonseca Pinheiro

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Carma Hereditário !


(Continuação de "Alice")

Era garota decidida, corajosa, de pensamento forte, mas só do peito pra dentro. Da boca pra fora nunca contestava, nunca questionava, engolia seco tudo o que lhe era imposto. Não se permitia ousar - temia a represália. Sofria calada, chorava em silêncio e morria aos poucos enclausurada dentro de uma casa velha, governada por um monstro que há 5 anos desempregado, fazia da sua vida um verdadeiro inferno.

Por muitos tempo foi assim, até que sabe lá Deus porque, naquela tarde em especial, Alice transbordou. Tinha sido a gota d’água. Não obstante, nada havia acontecido de diferente, o padrasto abusou dela mais uma vez, como costumava fazer várias vezes durante a semana. Mas alguma coisa mudou dentro de Alice ... e enquanto ele saiu para fumar, limpando as lágrimas ela tomou uma decisão: Isso nunca mais aconteceria.
 
Muitas coisas poderiam ter sido feitas, e ela escolheu a mais complicada, mas talvez a única que, de fato, a tornaria livre de todo esse pesadelo. Sua mãe, mulher ingênua e de pouca instrução, não acreditaria em uma palavra caso ela revelasse a verdade, então não adiantava contar. Por um segundo Alice pensou em cometer um homicídio, mas pelo seu irmãozinho de 2 anos, não o fez (afinal, o velho asqueroso era seu pai). Suicídio era a penúltima opção, mas ela tinha sonhos e não abriria mão deles. Decidiu, portanto, fugir levando uma mochila de roupas, sua boneca de pano e o diário secreto.

Deixou um bilhete na mesa para a mãe dizendo que a amava. Amarrou sua pulseira de miçangas no braço do irmão, deixando pra ele uma recordação e saiu pela porta pra nunca mais voltar. Pegou o ônibus na cidade em direção ao Rio de Janeiro. Vendeu balas de dia, pra matar a fome, e dormiu debaixo das marquises à noite, pra se esconder do sereno. Já aos 16 tentou emprego de camelô, mas perdeu seus produtos para a polícia depois de ser espancada por venda ilegal. Virou faxineira de casa de família, mas foi demitida logo em seguida porque se recusou a deitar com o patrão.

Alice sofreu de tudo tentando ser vencedora de sua própria história, mas como quem cumpre uma sina amaldiçoada, dolorosa e tenaz, se transformou em mais uma das tantas meninas que se prostituem no centro de uma das maiores megalópoles nacionais. Cheia de sonhos e planos, nunca conseguiu realizar sequer um deles. Ela é apenas mais uma vítima da vida e do destino. Não é justo que tenha sido assim, ela merecia ao menos uma oportunidade de ter sido feliz.

Não me lembrava dela, até que quando saia de casa semana passada fui abordado por uma moça que se identificou como Alice, minha irmã. Ela trazia um diário para que eu a conhecesse através das linhas dele, e se emocionou quando viu que eu ainda uso a pulseira colorida de miçangas. Ao longo daquele manuscrito eu completava as lacunas da minha vida e via nele um espelho. A cada linha eu odiava mais o meu pai e percebia que não tinha sido o único a sofrer nas mãos dele.

Pode parecer forte demais dizer isso assim, logo no final da história, mas a minha infância com meu pai foi exatamente igual à de Alice. A diferença é que eu não tive coragem pra fugir.

FIM

Matheus Fonseca Pinheiro

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Alice


- (continuação de "Luta ou Fuga?")

Era Alice, o seu nome. Vivia, dentro de seus pensamentos, no país das maravilhas (igualzinha à personagem do Lewis Carroll), mas a vida real era totalmente diferente. Talvez por isso mesmo fosse tão sonhadora, sua realidade a maltratava tanto que os sonhos funcionavam como rota de fuga nos picos de tristeza e solidão. Ela tinha 14, cabelos longos e olhos desconfiados – sorriso amedrontado de quem teme a repressão.

Eram 6:20 da manhã, ela acordava na beira do lago do parque cheia de pedacinhos de grama no vestido e no cabelo. A maquiagem borrara, e ela parecia insegura. Talvez arrependida, por ter dormido fora de casa? Mas levantou e limpou a roupa. Pegou seu diário, pôs debaixo do braço e fez o caminho inverso ao da tarde do dia anterior. Chegando em casa, deu com seu padrasto no quintal. A menina estremeceu inteira ... travou os pés no chão e baixou os olhos. Ele a reparou de baixo em cima e gritou para que entrasse. Ela agarrou o diário contra o peito e entrou quase desesperada.

Sua mãe havia saído para trabalhar e seu irmãozinho ainda dormia no berço.  Alice estava no quarto quando ele apareceu na porta. Era homem de meia idade, aparentava uns 52. Usava barba por fazer e vestia roupas amareladas. Tinha a aparência maltratada, meio suja e a exigia que o chamasse de pai. Ele fitou a menina no canto da cama e deu uma ordem que soaria estranho em qualquer tipo de sociedade. Alice se mantinha imóvel, como se pudesse recusar a proposta. Ele se aproximou dela e a agarrou pelo braço, levantando seu vestido. Ela fazia resistência, mas toda a sua força de nada adiantava. Ele arrancou os tecidos que separavam o corpo dela do seu e iniciou um rito de violência e abuso. Doía no corpo e na alma de Alice.

Quando acabou o ataque ele se vestiu, acendeu um cigarro e saiu para a rua. A menina com vergonha de si mesma e raiva do mundo inteiro, se engasgava com as lágrimas que inundavam seu rosto. Não era a primeira vez que isso acontecia. E muito provavelmente, não seria a última também. O diário trazia consigo segredos de uma infância terrível e demasiadamente sofrida. Era ali onde ela escrevia para expurgar seu ódio e as marcas da sua dor. Mas também era onde registrava seus sonhos e desejos futuros ... era apenas uma menina, como qualquer outra.

Matheus Fonseca Pinheiro

sábado, 22 de setembro de 2012

Luta ou Fuga ?



Tarde, outono, 2003. A garota caminhava na calçada. Rua deserta, era quarta. Burburinhos de crianças brincando, ouvia-se ao longe. Janelas abertas. Senhoras recolhiam roupas na corda. Ela passava cabeça baixa, como quem não quer enxergar o que vem pela frente. Levava nas mãos um livro. No rosto, maquiagem e apatia. O silêncio não a comovia e ela apenas caminhava, sempre a passos largos. Até que ao cruzamento, parou para atravessar.

Levantou os olhos e avistou a igreja. Capela simples, século passado. Entrou e ajoelhou-se no último banco, como quem não tem muita intimidade com o ambiente. Não reparou sequer o interior do lugar. Baixou a cabeça encostando o queixo no peito e apertou firme, com as duas mãos, o livro contra o tórax. Balbuciava palavras rápidas como se tivesse pressa, ou angústia acumulada. Fez cara de choro, mas conteve-se. Minutos depois, levantou.

Só na saída ergueu os olhos ao cristo crucificado no fundo da capela. Foi em frente ao altar, fez reverência e o sinal da cruz, saindo pela porta lateral. Desceu a ladeira acompanhando a calçada. Parecia estar convicta em seu objetivo. Parecia saber bem aonde ia. Aos poucos foi descendo o gramado do parque da cidade. Corria em direção ao lago. O vento sacudia o vestido. Sentou a beira da água. Eram 17:45, estava sozinha. Abriu o livro e começou a escrever.

Não era propriamente um livro, mas um diário. Haviam muitas páginas escritas. Muito provavelmente, era ela, a protagonista das histórias retratadas ao longo daquelas tantas linhas. Seria esse seu costume? Sair de casa a tarde, ir à igreja rezar e depois escrever às margens do lago do parque? Ou seria esse o motivo de sua fuga?

Acabou de escrever e segurou o manuscrito com a ponta dos dedos colocando-o entre a grama e a sua cabeça, como travesseiro (...) Fechou os olhos e adormeceu sobre a relva, às margens do pequenino lago azul.

Matheus Fonseca Pinheiro

domingo, 9 de setembro de 2012

Ossobuco de Vitela com Rondele !



Oi Lelê, 
antes de mais nada, isso não é um pedido de reconciliação, portanto não jogue fora antes de ler até o fim. Eu apenas encontrei um lustre igual ao seu no shopping, lembrei de nós, bateu saudade e vontade de escrever. Acho que seria legal te deixar a par de alguns novos acontecimentos da minha vida, afinal você contribuiu significativamente para a maioria deles. Pra começar, tô fazendo aquele curso de gastronomia que você me indicou e já aprendi a cozinhar o “Ossobuco de Vitela com Rondele” que você adora. Saí da empresa há uns meses e tô investindo aquela grana que economizei das nossas férias num empreendimento no ramo alimentício, junto com o Dedé. É um restaurante/lanchonete, aos moldes do TK de Curitiba, lembra? Vou passar a ganhar dinheiro com todas aquelas minhas receitas loucas que eu inventava pra nós nos finais de semana lá em Friburgo. Você sempre me encorajou muito pra que eu deixasse o escritório e me dedicasse a fazer realmente o que mais gosto. É uma pena não ter você aqui, comigo, neste momento pra ver de perto que as coisas estão fluindo tão bem quanto você achava que seria. Desde o início você acreditava em mim, muito mais do que eu mesmo, e é por isso que devo tudo isso somente a você. De vez em quando eu sinto falta das tuas frases de incentivo, dos teus sermões. E pra amenizar a solidão comprei 2 Goldens Retriever e uma calopsita. Eles me fazem companhia a noite. Meu pai vai vender a casa de veraneio e se mudar pra Petrópolis. Mas eu vou ficar por aqui, não posso me mudar, agora tenho negócios, né? Minha mãe disse que ele vai me ajudar a financiar uma quitinete. Não precisa ser nada muito grande pra abrigar um cara magrelo, 2 filhotes de cachorro e um passarinho. Tem uns preços bacanas de uns apês no centro. É a solução. Enfim, não quero me alongar, mas encerrarei com uma proposta: Estou combinando com o Dedé de fazer uma noite de degustação para definir os pratos principais da lanchonete. Queria contar com a sua presença, pode ser? Convidaremos apenas os amigos mais próximos e você é uma pessoa muito importante pra mim, principalmente no que se refere ao restaurante. Inclusive um dos pratos é mesmo o “Ossobuco de Vitela com Rondele” e no menu vai ter o nome de “Rondeletícia”, em sua homenagem. O trocadilho me pareceu muito criativo, e eu não pude evitar.

Mas e então, o que me diz? Topa experimentar mais uma vez minhas gororobas deliciosas? É a degustação de estreia, não vou lhe cobrar nada por isso... ou talvez um sorriso já pague!

Matheus Fonseca Pinheiro

sábado, 25 de agosto de 2012

Uma pinga serve !



A casa caiu, o povo não viu
A gente descente e valente sumiu
Feliz mesmo, só Jordão
Ainda vive, às custas da omissão

A arquibancada vibra, se anime!
O medo e o crime jogam no mesmo time
É gol da corrupção, a capitã
Belíssimo passe da ignorância, cristã

Cidade é escura, poluída e impura
Campo é exploração infantil, dor, clausura
Politicagem barata, promessa mentirosa
Na TV, nas ruas, na poesia e na prosa

Triste fim, caminhamos a pé
Sem liberdade e comida, mas com fé
Eu quero educação! Tá em greve!
Então desce uma pinga que serve

Matheus Fonseca Pinheiro

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Crime Pós-feito !



Foi como num sonho. O primeiro relâmpago me revelava o seu corpo inteiro à mostra, debaixo do tom de meia luz esfumaçado que o quarto oferecia, contribuindo, assim, para a intensificação de sua inegável sensualidade, que exalava a flor da pele. Os olhos eram tímidos e a boca sorria apenas pela metade – o equilíbrio perfeito entre o envergonhado e o sedutor. Sua epiderme parecia mármore de tão clara, tão lisa, tão brilhante e delicada; tinha gosto de excentricidade e emanava o perfume dos Deuses.

Ela se entregava como se fosse a última vez; e eu a conduzira como se fosse a primeira. A chuva fazia barulho no telhado e junto com o "Battle Studies" do John Mayer completava a trilha sonora dos nossos embaraços. O rádio, as cortinas, mas, sobretudo os lençóis eram testemunhas vivas dos nossos carinhos e dos seus gemidos; não fazíamos questão de conter nenhum impulso, tudo acontecia naturalmente e nada era reprimido. Nascemos um pro outro e até ali eu ainda não tinha descoberto isso.

Após longas horas de total entrega, prazer e delírios, a noite se aquietou. Vidros embaçados e corpos suados foram as únicas provas remanescentes de um crime perfeito - mas crimes perfeitos não deixam provas, não é? - Ela descansava a cabeça no meu peito, exausta; eu ainda estava em êxtase e apenas afagava os seus cabelos. Talvez a maior prova do crime ainda estivesse por vir, a consciência pós-ato. Nada negaria a perfeição daquela noite e nenhum Nietziano ousaria dizer que não era amor, o que acontecia entre aquelas paredes. Entretanto, segundo o poeta, não existem dois amores. A existência de um, anula o outro - e é justo que seja assim.

Pois cabe, então, à sua consciência agora, escolher entre a aventura e o comodismo, entre o destino e a convenção, entre o meu coração apaixonado e o de quem ela dizia amar até ontem. “As princesas geralmente são prometidas a um belo cavalheiro, com finos trajes, luvas brancas e alto conceito social, só que, quase sempre, do lado de fora do castelo existe um cara que não tem cavalo, nem roupas de seda, mas tem muito mais a oferecer.”

Matheus Fonseca Pinheiro

sábado, 28 de julho de 2012

Pensa Bem, Meu Bem!



Foi assim de relance. Simplesmente acabou. A correria da faculdade e as rotinas divergentes nos distanciaram. Você não ligou mais; eu também não. Hoje a gente se esbarra, troca umas ideias, tenta não tocar no assunto... Mas esse seu olhar de quem ainda tem muita coisa pra dizer, eu conheço de longe. O que eu não entendo é o que te faz ficar quieta sempre.

Ah, já sei, tem aquele lance da coragem, né?! Você não é dessas que assume o risco. Pois bem, meu anjo, a vida é curta, e ela me ensinou que, de tempos em tempos, a gente tem que pagar pra ver – pra valer a pena viver. Jogar no tudo ou nada. Apostar alto. Numa visão mais economista do caso: “Quanto maior o risco, maior a rentabilidade”. São as maiores apostas que trazem as melhores remunerações.

Ouça-me bem, amor: segura a minha mão. Confia em mim e vem. Sei que você vai dizer que está bem como está; eu também estou, acredite. Mas a fuga sempre esconde um resquício de covardia. E se há alguma coisa escondia ainda, é porque existe receio, e por trás deste, algo que pode mudar o rumo das coisas que aconteceram até aqui. Então não hesita, me conta o que passa aí dentro do seu coração. Meus poderes são limitados, e apesar de ter certeza de que há algo intrínseco aos seus sentimentos que eu preciso saber, não consigo desvendar o que, de fato, é.

Entenda que eu não quero te impor nada. Só peço sinceridade. Quero as cartas na mesa. Jogo aberto. Preciso saber, de uma vez por todas, quem leva a partida. Se eu perder, a gente acaba com esse assunto e eu vou embora. Afinal de contas, apostei tudo no seu sorriso, e depois disso nada me sobrou. Mas se eu ganhar, você também ganha. Aliás, você me ganha, e nós, juntos, ganhamos o mundo inteiro pra fazê-lo testemunhar que o que o destino escreve não há ninguém que possa apagar. 

Matheus Fonseca Pinheiro

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Cartas Marcadas ...


É difícil demais jogar esse jogo, onde os jurados são imparciais e o meu adversário é cúmplice das desonestidades da bancada dos avaliadores.
“Eles ganham a corrida antes mesmo da largada!” diria Humberto em “3° do plural”. É aquele típico mundo onde sua  aceitação no circo não depende do quão capacitado você é para domar o leão, mas sim do quanto você é amigo do dono da Companhia e com que frequência está disposto a sorrir quando este imbecil tomar uma atitude equivocada, como maltratar o animal, por exemplo. 

É, no mínimo, desconfortável ter que assistir calado a construção deste castelo de cartas marcadas. Cartas belas, sorridentes, simpáticas. Tão belas quanto frágeis. E quando as bases não são sólidas, amigo, o castelo tende a desmoronar muito rapidamente. Até aí tudo bem, o problema é quando esse desmoronamento afeta as bases do meu castelo, que eu construí com muita transparência e honestidade, e não admito que a sua inconsequência venha a prejudicar o meu tão suado trabalho num futuro próximo!

É melhor você entender a mensagem assim, camuflada por alusões. Eu não quero ser tão direto contigo... 
Aposto que não te agradaria nada, a alteração do meu tom de voz!

Matheus Fonseca Pinheiro

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Dois era par!



As coisas se alternam permanentemente, e no entrelaço destas linhas tão frágeis, o improvável se faz tangível, mas a cor dos olhos pode não ser o cheiro da flor. Assim como a lua não cria seu próprio reflexo, e apesar da água não correr para cima a agitação das moléculas é quase o bastante para interferir quimicamente na física que há entre nós, ou fisicamente na química dos nossos desenganos.

As passarelas são feitas para nos levar de um lado ao outro sem risco. Mas basta que uma folha seca entre na trajetória do caos para que a ordem se estabeleça apenas parcialmente. Eu não me distingo entre essas duas dimensões. O máximo que posso fazer é inquietar, de forma que estando inerte, não interfira no fluxo natural das coisas.

Mas e se os seguimentos de reta não forem paralelos, e se cruzarem antes do infinito? Seria aí o ápice da felicidade ou o fundo do poço da intolerância? São muitas as especulações e poucas as convicções. Entre as nossas perspectivas para uma estável relação de par existem muitas análises mal terminadas e nenhuma síntese fatídica. E dessa maneira, sendo tudo tão instável, eu me desapego e reconheço o fracasso.

Do arrependimento, apesar disso, não levo nem um punhado. O caminho só é feito quando se caminha. Se, por um lado, houve equívoco na estrada escolhida, por outro, houve certeza na linda escolha de se caminhar. Os pássaros vão cumprir sempre o seu papel de cantar, os sapos vão repetir sempre seu costume de pular, e o amor vai ter, por fim, sempre seu destino imutável de acabar. E enquanto houverem palavras, eu vou escrever pra te lembrar: “Capitolina, Dois era par”.

Matheus Fonseca Pinheiro

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Deixei alguns livros na sua casa...


Deixei alguns livros na sua casa e preciso voltar pra buscá-los. Se a minha presença for te incomodar muito, pode deixar com o porteiro que na terça eu passo pra pegar. São aqueles que estão no lado direito da cômoda, ou pelo menos estavam, até a noite em que eu fui embora.

Eu até poderia deixá-los aí mas tenho certeza de que não vão ter utilidade pra você, a não ser que a mesinha da sala esteja em falso. Sei que não gosta muito de temas que causam reflexão. A propósito, comprei um livro do Sartre e tenho passado as noites longe de ti, na agradável companhia dele. Parei numa parte interessantíssima, na qual me identifiquei de imediato, onde ele diz que a vida não faz sentido.

Tenho percebido isso ao longo destes meses, saboreando o gosto amargo da sua ausência. E tenho me posto à prova diversas vezes durante o dia, de modo a conter algumas atitudes impensadas, que podem trazer consequências infelizes. Mas não perco a vontade. Vontade essa, por ora, de elucidar, ou afundar com desprezo, o amor; de ressaltar lástimas e tédio que me trazem dor; de reescrever lamúrias pra curar a solidão; de pedir aos céus e esperar no chão.

Eu precisaria avançar mais um pouco no livro pra descrever pra você o que realmente estou sentindo. Mas se como diz Schopenhauer o amor é tão banal e imbecil, não faz sentido o esforço do discurso e muito menos a saudade do que nunca aconteceu... Enfim, de qualquer maneira, eu quero meus livros de volta. São seis. Um do Boff, dois do Paulo, um da Simone de Beauvoir e os outros dois eu não lembro. Assim como fiz questão de esquecer também que você foi por três anos e sete meses a mulher da minha vida.

Matheus Fonseca Pinheiro

sábado, 5 de maio de 2012

Papo Vai , Papo Vem ...



Três taças de vinho, duas gargalhadas e o começo de uma conversa que ia dar pano pra manga...

- Às vezes eu lembro dos fins de semana que a gente ia ao cinema para não ver o filme, disse ela com ar de risada.

- aaaaaah, é verdade. Era bom demais... , respondeu ele com um sorriso dois dedos maior que o rosto.

- Pois é. Você era alguém muito especial pra mim.

- Era? Do Tipo, não sou mais? Indagou ele.

- Claro que é. E vai ser sempre...

- Se eu era tão importante, por que nunca retornou minhas ligações, nem me procurou depois das férias?

-É que lá em casa, as pessoas tem mania de esquecer de dar recados, então nunca soube que você ligou. E além do mais, achei que já estava em outra... sei lá.

- Pior que não. Foi difícil virar a página que levava o seu nome.

- Hmn. Hoje eu me arrependo. Foi uma pena ter deixado você ir assim. Queria ter tido mais coragem. Confessou ela.

- E eu queria ter tido mais tempo pra mostrar pra você que valeria a pena ter investido em nós dois.

- Não se preocupe com isso, eu sempre soube que você é aquele tipo de garoto que sempre vale a pena! E nunca é tarde pra tentar ... Desafiou ela, fixando seus olhos no dele.

Houve um breve instante de silêncio e uma troca de olhares típica dos filmes do Woody Allen. A boca seca, dele, pedia mais um gole de vinho, mas seus olhos vidrados procuravam outra forma de refrescar os lábios... quando, de súbito, ela soltou:

- Eu arriscaria essa noite por você!

E dois segundos depois ele fechou o diálogo, e abriu a madrugada, dizendo:

- E eu daria o melhor de mim, pra valer a pena cada segundo, contigo!

Matheus Fonseca Pinheiro

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Amizade Colorida !



Faço dos teus olhos, o meu sertão.
De quando em vez, faço dos teus braços minha morada.
Você faz de mim escravo, servo, serviçal.
Eu te faço rainha, amante e apaixonada.
Se você faz birra, eu faço riso.
Se você faz falta, eu ligo.
Se faz frio, e te convido.
Você entra, senta, disfarça e me chama de amigo.

Faço das tuas curvas, minha perdição.
Da tua mente, labirinto.
Meu vocabulário vazio te faz duvidosa.
Mas meu carinho é verdadeiro, eu não minto.
Você diz amizade, eu quero romance.
Você faz planos sozinha, eu espero um convite.
Eu conto meio segredo, você fica curiosa.
Pergunta quem é a tal, mas não arrisca um palpite.

Um dia eu compro um pouco de coragem
Ou vendo toda minha timidez.
Ou faço aquela coisinha
De contar um... dois... três!  (Respira, e lá vai!)

Não me contento com pouco
Mas seu abraço já é muito pra mim.
Eu só queria que você me levasse a sério
Para que o poema tivesse um outro fim.

Matheus Fonseca Pinheiro

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Resposta Sincera de um Ex-namorado Puto !


- Não.  E preste atenção, isso não é despeito, não é recalque nem ciumezinho idiota, mas tenho certeza de que esse imbecil, que hoje você apresenta aos seus pais, não sente a metade de tudo o que eu sinto por você. E mais: ele não vai ligar, nem mandar flores no “dia seguinte”. Não vai rir das suas risadas nem te fazer chorar de cócegas. Não vai te dar razão quando você estiver errada, muito menos admitir quando você estiver certa. Não vai te beijar como eu beijei; não vai fazer amor com tanto carinho e puxões de cabelo como eu fiz. Não vai passear de mãos dadas no Jardim Botânico. Não vai ver o pôr do sol da areia de Copa.
Não vai te levar pra jantar. Não vai te levar pro altar. Não vai te levar a sonhar.

Prometo que é a última coisa que eu falo, não vou mais incomodar. Mas se você acha que está certa, vai lá... fique à vontade pra errar!

Matheus Fonseca Pinheiro

sábado, 10 de março de 2012

" Viva la Revolucion! "


Eu quero a sorte de um amor tranquilo com sabor de fruta mordida” , já dizia Cazuza. 
Eu quero os prazeres doces, azedos e amargos das desilusões da vida. 
Eu quero paz na favela, e luz na corrupção. 
Eu quero a força do Mandela pra liderar uma revolução! 
Eu quero a beleza das orquídeas dando cor ao jardim...
Eu quero sorte, temor à morte, benção em latim. 
Eu quero “Liberdade – igualdade - fraternidade”. 
Eu quero esperança no sorriso da criança. Felicidade. 
Eu quero a graça de Deus, a sabedoria de Zeus e o amor dos meus. 
Eu quero a amizade, o fim da maldade e a fé dos ateus! 
Eu quero o abraço do meu pai, o beijo da minha mãe, o olhar do meu irmão. 
Eu quero a maçã de Newton, a pureza de Eva, a desobediência de Adão. 
Eu quero o verdadeiro culpado, a liberdade de expressão, o monoteísmo. 
Eu quero golpe de estado, fim do Caveirão, Socialismo. 
Eu quero educação de qualidade, saúde, comida na mesa. 
Eu quero o fim dos oligopólios, fim dos privilégios burgueses, fim da safadeza.

Eu quero o que é meu por direito, das crenças que eu trago no peito, eu quero a verdade. Assassinaram a fé, decapitaram a justiça, torturaram a bondade!

Eu quero o povo à frente do nosso país!
Eu quero os ideais de São Francisco de Assis. 
Para que assim possamos ser espelho de vários outros Brasis.
Fazendo de toda a nossa gente um pouquinho mais feliz!

Matheus Fonseca Pinheiro

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A Surpresa do Jantar (continuação de "O Começo do Fim")


A primeira frase depois que os dois sentaram à mesa foi dele: “ - Seu cabelo está especialmente lindo, hoje!” . Ela agradeceu, sorriu e disse não ter feito nada de diferente. Ele riu também e perguntou como ela tinha ido no trabalho. A moça respondeu, explicou alguns casos e comentou sobre uma audiência. Dr. Bastos se fazia muito participativo e parecia muito atento a todos os gestos e palavras dela.

Eles pediram salmão e uma garrafa do vinho que ela escolheu. Era a vez dela perguntar como havia sido o dia do doutor no escritório. Ele dava quase uma aula de tributação e ela só escutava, com um leve orgulho de “namoradinha” que admira o namorado - Nenhum dos dois sequer haviam tocado na palavra namoro, mas na cabecinha dela esse seria o próximo passo.

Enquanto Dr. Bastos Filho comentava sobre um antigo cliente dele, ela vê surgir entrando pela porta do restaurante alguém que nunca lhe passaria despercebido: Marcelo, seu ex-namorado. Ele não a viu, mas sentou-se duas mesas antes da deles, e curiosamente de frente para ela. A moça sabia que a qualquer momento ele a notaria ali. Ela, então, não hesitou. Continuou a ouvir o que o doutor tinha a dizer e começou a fazer carinho nas suas mãos, caso o Marcelo olhasse, sentiria o clima entre ela e o moço de terno cinza. O que ela nem desconfiava é que eles se conheciam há muito mais tempo que ela própria.

Quando Marcelo a viu algumas mesas à frente, não pensou duas vezes, levantou para cumprimentá-la, ou talvez para conferir se o que tinha visto de longe era verdade. Ele se aproximou da mesa e disse: “ - Juliana? Quanto tempo!”. E quando encarou seu companheiro de mesa não poupou a escandalosa surpresa: “ - BASTOS? O que você tá fazendo aqui com a Juliana?”. A cara do Dr. Bastos era digna de uma foto. Ele não sabia o que dizer, mas disse: “ – Marcelo? Ehmrrst... “. A essa altura era a Juliana que não tava entendendo nada. “ Ei, peraí, de onde vocês se conhecem?”. Aposto que se ela soubesse a dor que lhe causaria a resposta dessa pergunta, nunca a teria feito. “ - Ele é marido da minha irmã Christina!”, respondeu Marcelo, no ato.

Foi um Baque total. Como uma batida de caminhões. Como choque debaixo d’água. Como uma dinamite dentro do peito. Juliana perdeu o chão. Não sabia mais o que dizer nem o que ouvir. Dr. Bastos até tentou, mas percebeu que nada poderia ser feito pra reverter a situação. As lágrimas de Juliana já molhavam a toalha da mesa quando ela pegou as bolsas e se levantou dizendo palavras duras que terminavam com “... e eu nunca mais quero ver a sua cara!”.

E saiu do restaurante em frangalhos, esbarrando pelas mesas do caminho, tropeçando nos beirais da calçada, e com a sensação cruel de que nunca encontrará alguém que lhe faça feliz sem que duas semanas depois estraçalhe o seu coração em pedacinhos, assim, tão dolorosamente.  
Matheus Fonseca Pinheiro

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O Começo do Fim (continuação de "Little Cap !")


Ela espera a ligação, mas nem sinal dele. Talvez esteja em reunião, talvez esteja dirigindo. Esquecido, nunca. Ela nem cogitava essa hipótese. Sua última cliente tinha acabado de sair e ela, se quisesse, poderia até ir pra casa. Mas não era isso que a moça queria. No fundo ela esperava a sobremesa do jantar de ontem. Como alguém que ainda não disse tudo o que tem a dizer. Como um tenor que ainda não proferiu as últimas notas da ópera.

Ela até tentava disfarçar a ansiedade, mas seu pezinho inquieto denunciava-a claramente.  E enquanto mexia na bolsa procurando alguma coisa que nunca iria encontrar, o telefone toca - É ele . Marca num restaurante em botafogo dali a meia hora...

Ela, então, caminha em direção ao estacionamento pensando no que deve dizer e como deve agir, para não parecer demasiadamente superficial ou intensa demais para a situação. Retoca a maquiagem no espelho do carro e passa as mãos pelo cabelo, para dar volume. Segue em direção à Zona Sul. O engarrafamento já era de se esperar. Ela põe o disco novo da Colbie Caillat pra tocar e vai tentando disfarçar o nervosismo ao longo do caminho. Seu inglês sempre impecável, mas sua afinação vocal era um tanto discutível.

Enfim, 47 minutos depois, a advogada mais sexy do Rio de Janeiro entrava no melhor restaurante de Botafogo. Lá da porta ela o fitou: Terno cinza chumbo, gravata italiana. Ele sorriu e levantou-se, cortejando-a como um perfeito cavalheiro; ela respondia atenta aos sorrisos e aos cumprimentos com uma sutileza invejável.

O encontro e o jantar estavam apenas começando... e o fim dessa história, também

Matheus Fonseca Pinheiro

domingo, 29 de janeiro de 2012

Little Cap !


Lá vai a menina sonhadora entrando apressada naquele antigo escritório de advocacia. Hoje é segunda, centro do Rio, outono. As audiências não perdoam. São três clientes só nesta manhã, e ela nem parece estar preocupada com isso, afinal a noite de ontem ainda não acabou.

Ela apaga o cigarro e vacila um riso pelo canto da boca como se lembrasse de algo bem pertinente. Apóia suas bolsas sobre a mesa e logo se dirige à garrafa de café. Enquanto pinga o adoçante ela voa com o pensamento longe... tão longe quanto queira. Sonha alto. Planeja sem pensar.  Se arrepende por não ter feito, mas se recorda que não o fez por medo de arrepender-se.

Complicada, complexada, consumista. Linda, resumiam os rapazes do Tribunal de Justiça; elegante, cochichavam as moças da recepção. Olhos verdes, bolsa da Dior. Recém formada na Puc e ótima companhia para adegas às sextas. Tinha o carro que queria, o apartamento que podia, mas o amor... nem conhecia.

Se apaixonou diversas vezes. Namorou duas. Sofreu em todas. Depois da última, prometera não mais dar ouvidos a nenhum Dom Juan que lhe aparecesse assim, de supetão. Mas parece que a madrugada de hoje mereceu exceção. Dr. Carlos Bastos Filho, advogado de sucesso, 39 anos.

O que ela nem sequer imaginava é que ele era casado. Casado com a irmã do seu ex-namorado Marcelo Pacoccini. E é aí que a história começa a ficar interessante... 

Matheus Fonseca Pinheiro