A primeira frase depois que os dois sentaram à mesa foi
dele: “ - Seu cabelo está especialmente lindo, hoje!” . Ela agradeceu, sorriu e
disse não ter feito nada de diferente. Ele riu também e perguntou como ela
tinha ido no trabalho. A moça respondeu, explicou alguns casos e comentou sobre
uma audiência. Dr. Bastos se fazia muito participativo e parecia muito atento a
todos os gestos e palavras dela.
Eles pediram salmão e uma garrafa do vinho que ela escolheu.
Era a vez dela perguntar como havia sido o dia do doutor no escritório. Ele
dava quase uma aula de tributação e ela só escutava, com um leve orgulho de
“namoradinha” que admira o namorado - Nenhum dos dois sequer haviam tocado na
palavra namoro, mas na cabecinha dela esse seria o próximo passo.
Enquanto Dr. Bastos Filho comentava sobre um antigo cliente
dele, ela vê surgir entrando pela porta do restaurante alguém que nunca lhe
passaria despercebido: Marcelo, seu ex-namorado. Ele não a viu, mas sentou-se
duas mesas antes da deles, e curiosamente de frente para ela. A moça sabia que
a qualquer momento ele a notaria ali. Ela, então, não hesitou. Continuou a
ouvir o que o doutor tinha a dizer e começou a fazer carinho nas suas mãos,
caso o Marcelo olhasse, sentiria o clima entre ela e o moço de terno cinza. O
que ela nem desconfiava é que eles se conheciam há muito mais tempo que ela
própria.
Quando Marcelo a viu algumas mesas à frente, não pensou duas
vezes, levantou para cumprimentá-la, ou talvez para conferir se o que tinha
visto de longe era verdade. Ele se aproximou da mesa e disse: “ - Juliana?
Quanto tempo!”. E quando encarou seu companheiro de mesa não poupou a
escandalosa surpresa: “ - BASTOS? O que você tá fazendo aqui com a Juliana?”. A
cara do Dr. Bastos era digna de uma foto. Ele não sabia o que dizer, mas disse:
“ – Marcelo? Ehmrrst... “. A essa altura era a Juliana que não tava entendendo
nada. “ – Ei, peraí, de onde vocês se conhecem?”. Aposto que se ela soubesse a
dor que lhe causaria a resposta dessa pergunta, nunca a teria feito. “ - Ele é
marido da minha irmã Christina!”, respondeu Marcelo, no ato.
Foi um Baque total. Como uma batida de caminhões. Como
choque debaixo d’água. Como uma dinamite dentro do peito. Juliana perdeu o
chão. Não sabia mais o que dizer nem o que ouvir. Dr. Bastos até tentou, mas
percebeu que nada poderia ser feito pra reverter a situação. As lágrimas de
Juliana já molhavam a toalha da mesa quando ela pegou as bolsas e se levantou
dizendo palavras duras que terminavam com “... e eu nunca mais quero ver a sua
cara!”.
E saiu do restaurante em frangalhos, esbarrando pelas mesas
do caminho, tropeçando nos beirais da calçada, e com a sensação cruel de que
nunca encontrará alguém que lhe faça feliz sem que duas semanas depois estraçalhe
o seu coração em pedacinhos, assim, tão dolorosamente.
Matheus Fonseca Pinheiro
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