Lá vai a menina sonhadora entrando apressada naquele antigo
escritório de advocacia. Hoje é segunda, centro do Rio, outono. As audiências
não perdoam. São três clientes só nesta manhã, e ela nem parece estar
preocupada com isso, afinal a noite de ontem ainda não acabou.
Ela apaga o cigarro e vacila um riso pelo canto da boca como
se lembrasse de algo bem pertinente. Apóia suas bolsas sobre a mesa e logo se
dirige à garrafa de café. Enquanto pinga o adoçante ela voa com o pensamento
longe... tão longe quanto queira. Sonha alto. Planeja sem pensar. Se arrepende por não ter feito, mas se recorda
que não o fez por medo de arrepender-se.
Complicada, complexada, consumista. Linda, resumiam os
rapazes do Tribunal de Justiça; elegante, cochichavam as moças da recepção.
Olhos verdes, bolsa da Dior. Recém formada na Puc e ótima companhia para adegas às
sextas. Tinha o carro que queria, o apartamento que podia, mas o amor... nem
conhecia.
Se apaixonou diversas vezes. Namorou duas. Sofreu em todas.
Depois da última, prometera não mais dar ouvidos a nenhum Dom Juan que lhe
aparecesse assim, de supetão. Mas parece que a madrugada de hoje mereceu exceção.
Dr. Carlos Bastos Filho, advogado de sucesso, 39 anos.
O que ela nem sequer imaginava é que ele era casado. Casado
com a irmã do seu ex-namorado Marcelo Pacoccini. E é aí que a história começa a
ficar interessante...
Matheus Fonseca Pinheiro
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