Deixei alguns livros na sua casa e preciso voltar pra
buscá-los. Se a minha presença for te incomodar muito, pode deixar com o
porteiro que na terça eu passo pra pegar. São aqueles que estão no lado direito
da cômoda, ou pelo menos estavam, até a noite em que eu fui embora.
Eu até poderia deixá-los aí mas tenho certeza de que não vão
ter utilidade pra você, a não ser que a mesinha da sala esteja em falso. Sei
que não gosta muito de temas que causam reflexão. A propósito, comprei um livro
do Sartre e tenho passado as noites longe de ti, na agradável companhia dele.
Parei numa parte interessantíssima, na qual me identifiquei de imediato, onde
ele diz que a vida não faz sentido.
Tenho percebido isso ao longo destes meses, saboreando o
gosto amargo da sua ausência. E tenho me posto à prova diversas vezes durante o
dia, de modo a conter algumas atitudes impensadas, que podem trazer
consequências infelizes. Mas não perco a vontade. Vontade essa, por ora, de
elucidar, ou afundar com desprezo, o amor; de ressaltar lástimas e tédio que me
trazem dor; de reescrever lamúrias pra curar a solidão; de pedir aos céus e
esperar no chão.
Eu precisaria avançar mais um pouco no livro pra descrever
pra você o que realmente estou sentindo. Mas se como diz Schopenhauer o amor é tão banal e imbecil, não faz sentido
o esforço do discurso e muito menos a saudade do que nunca aconteceu... Enfim,
de qualquer maneira, eu quero meus livros de volta. São seis. Um do Boff, dois
do Paulo, um da Simone de Beauvoir e os outros dois eu não lembro. Assim como
fiz questão de esquecer também que você foi por três anos e sete meses a mulher
da minha vida.
Matheus Fonseca Pinheiro
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