quinta-feira, 7 de junho de 2012

Deixei alguns livros na sua casa...


Deixei alguns livros na sua casa e preciso voltar pra buscá-los. Se a minha presença for te incomodar muito, pode deixar com o porteiro que na terça eu passo pra pegar. São aqueles que estão no lado direito da cômoda, ou pelo menos estavam, até a noite em que eu fui embora.

Eu até poderia deixá-los aí mas tenho certeza de que não vão ter utilidade pra você, a não ser que a mesinha da sala esteja em falso. Sei que não gosta muito de temas que causam reflexão. A propósito, comprei um livro do Sartre e tenho passado as noites longe de ti, na agradável companhia dele. Parei numa parte interessantíssima, na qual me identifiquei de imediato, onde ele diz que a vida não faz sentido.

Tenho percebido isso ao longo destes meses, saboreando o gosto amargo da sua ausência. E tenho me posto à prova diversas vezes durante o dia, de modo a conter algumas atitudes impensadas, que podem trazer consequências infelizes. Mas não perco a vontade. Vontade essa, por ora, de elucidar, ou afundar com desprezo, o amor; de ressaltar lástimas e tédio que me trazem dor; de reescrever lamúrias pra curar a solidão; de pedir aos céus e esperar no chão.

Eu precisaria avançar mais um pouco no livro pra descrever pra você o que realmente estou sentindo. Mas se como diz Schopenhauer o amor é tão banal e imbecil, não faz sentido o esforço do discurso e muito menos a saudade do que nunca aconteceu... Enfim, de qualquer maneira, eu quero meus livros de volta. São seis. Um do Boff, dois do Paulo, um da Simone de Beauvoir e os outros dois eu não lembro. Assim como fiz questão de esquecer também que você foi por três anos e sete meses a mulher da minha vida.

Matheus Fonseca Pinheiro

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