segunda-feira, 21 de março de 2011

O sabor da sua destruição!


Cansei de ser bonzinho. De querer oferecer sempre o meu melhor. De tentar ser cordial, romântico, fiel, único. 
CHEGA
Ao invés de pétala, nas rosas eu quero me tornar o espinho. 
Quero ferir, machucar, poder sagrar as mãos de quem, sempre, pedacinho por pedacinho, foi me desfazendo, até, após muito sofrimento, me jogar contra a brisa num dolorido mal-me-quer.
Quero que a ternura fina e macia da minha pele, como flor, se transforme em pontiagudas e letais armas de defesa contra os pássaros mal-intencionados, que apenas interessam-se pelo meu singelo pólen dourado para se aproveitar da sua nobreza rara.
Esquecerei minhas raízes de angiosperma para, então, transformar-me em cactácea.
Não mais oferecerei meu mel e meus frutos, pelo contrário. Me torno neste momento um vegetal venenoso e com espinhos cortantes, pronto para tragá-la como fonte de energia fotossintética.
As mentiras, as traições e as falsidades que me enganaram durante a vida, deram origem hoje às minhas artérias condutoras de veneno. Meus afagos, minhas palavras meigas e minha ingenuidade se convertem agora em espinhos perfurantes, nem um pouco inofensivos. E a energia necessária para minha fotossíntese vem da glicose retirada do doce sabor da sua destruição.

Matheus Fonseca Pinheiro

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