Eu sei que a gente não tem nada. Bom, a gente tem uma troca de olhares
incrivelmente sincronizada, uma sintonia de sorrisos fora do comum e alguma
coisa meio inexplicável que nos faz estremecer quando estamos perto um do
outro. E isso, convenhamos, não pode ser definido como “nada”; a maioria dos
casais que estão juntos por aí não tem metade da nossa compatibilidade, mas tem
pelo menos um relacionamento, nós não, e foi por isso que eu comecei o texto
assim, definindo nosso caso como não existente. No fundo ele existe, mas não
acontece. Enfim, a situação real é essa: no frigir dos ovos, entre nós dois,
hoje, não rola absolutamente nada, nunca rolou e, honestamente não sei dizer se
algum dia vai rolar, porque cada vez que eu vejo uma declaração sua pro seu “namorado-perfeito”
penso que os olhares, os sorrisos e o ‘alguma coisa inexplicável’ que eu citei
lá em cima, são comportamentos unilaterais. Nesse caso, de mim pra você, mas
que a contrapartida disso só existe de verdade na minha cabeça.
Sonhei contigo hoje (e
não foi a primeira vez). Eu passava na sua casa pra te pegar pra sair, e
conversava com a sua mãe na cozinha enquanto você terminava de se arrumar.
Vocês tinham acabado de chegar lá de Sorocaba e ela me contava das travessuras
dos seus primos no feriado. No momento em que eu ria das histórias, você entra,
linda, deslumbrante com aquela saia longa de cintura alta esverdeada que eu
adoro e diz "vamos?", com esse sorriso desconcertante que faz meus
olhos brilharem. Eu elogio seu cabelo, você agradece, se despede da sua mãe, e
a última coisa que eu me lembro é de ter ganho um beijo seu antes de chamar o
elevador.
Era sonho, né, claro, bobagem, eu tava só dormindo; mas
eventualmente fico sonhando acordado com esses momentos mágicos, sabia? Me
pergunto quando é que eu vou poder pegar na sua mão sem ter que disfarçar pra
ninguém ver, ou quando te chamar, sem receios, pra correr comigo na orla e
tomar uma água de côco no seu José vendo o pôr-do-sol alaranjado escurecer da
areia. Quero aceitar seu convite pra ir à praia do sossego, mas poder dizer que
prefiro ir só contigo, sem sua melhor amiga de contrapeso. E assumir, de uma
vez por todas, que as aulas de dança que eu sugeri são só um pretexto
inteligente pra sentir seu perfume mais de perto, e poder, ainda que por alguns
minutos, atestar a sincronicidade dos nossos corpos num ritmo de constante
envolvimento, sentindo a minha barba arranhar a sua bochecha.
Todas as noites eu te mando uma mensagem antes de dormir, e
deito fantasiando cenas de uma relação impossível, que só pode virar realidade se
você assumir pra si mesma que a gente tem tudo pra dar certo. Nós sabemos
perfeitamente que o que tá acontecendo não é um encantamento pontual e
passageiro, e que não vai desaparecer de hoje pra amanhã, meu bem, mas se a sua
decisão continuar sendo a ‘indecisão’ eu posso apostar que não demora muito pra
a gente perder o timing (se isso já não tiver acontecendo). E aí sim, vai ser o
ponto final de um romance que nem começou; e o que sobra sempre nesses casos é
só a dúvida (cruel e infinita) de “como seria se tivesse sido?”.
Querida, eu só queria que você tivesse um pouco mais de
coragem pra seguir seu coração. Às vezes eu sinto que te falta atitude pra se
posicionar de forma decisiva, e a maturidade, nesse momento, faz uma enorme
diferença. Você pode dizer pra mim que a sua “síndrome do macaco gordo” te
venceu e que prefere ficar parada no mesmo galho velho ao invés de conhecer o
resto da floresta. Eu vou entender, e mesmo achando que você tá errada, vou embora,
sem questionar, acreditando que você tenha boas razões pra essa escolha. Mas,
por favor, não acaricia a minha mão, nem enrosca suas pernas nas minhas debaixo
da mesa se realmente não quiser ficar comigo; não diz que meu sorriso te deixa
meio ‘bobinha’, nem que a minha presença te faz acelerar o coração, se não vai
escolher estar do meu lado de verdade; não me encara desse jeito que só você
sabe, sorrindo e cheia de paixão nos olhos se não tá afim de viver uma relação
verdadeira, e de corpo inteiro.
Eu estou a beira de me apaixonar, e assumo isso, mas me
recuso a continuar vivendo um sonho sozinho. Você tem o que quiser de mim, eu
já te disse, mas não vou continuar aqui disponível sempre que te for
conveniente, sinto muito. Eu não mereço ser o reserva, e não quero ocupar esse
lugar. Estive em modo 'Stand by' esperando por você até agora, mas me dei conta,
no sábado, que seu namorado te faz muita falta, né, e que não há distancia que
separe um amor verdadeiro, afinal. Tá certo, belas palavras, eu concordo
contigo; e
talvez isso tenha sido um sinal pra que eu me afaste aos poucos, antes de
sofrer por uma coisa que nunca existiu.
Mas, cá entre nós, digo do fundo do meu coração idiota,
confuso e atordoado: se ainda tiver procurando um parceiro de vida e viagem, de
tapioca e chocolate, sushis e medalhões à piamontese, França e Espanha, trilhas
e praias paradisíacas, Kelly key e Maroon 5, Blueberrys e brigadeiros de
nutella, Natiruts e nascer do sol, Moscou e Nepal, sorvete de flocos e
brigadeiro de panela, Sana e Ilha Grande, bungeejumping e paraquedas, Ilhas Fiji e Cancún, vinhos baratos e um porco de estimação, diz de uma vez por
todas que me quer como seu camera-man, e que me escolhe pra compartilhar os
momentos mais divertidos e inesquecíveis dos seus vinte e poucos anos, de tanto
charme e simpatia.
Matheus Fonseca Pinheiro
E ai deu certo?
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