sábado, 16 de janeiro de 2016

Sagitária !





Eu sei que a gente não tem nada. Bom, a gente tem uma troca de olhares incrivelmente sincronizada, uma sintonia de sorrisos fora do comum e alguma coisa meio inexplicável que nos faz estremecer quando estamos perto um do outro. E isso, convenhamos, não pode ser definido como “nada”; a maioria dos casais que estão juntos por aí não tem metade da nossa compatibilidade, mas tem pelo menos um relacionamento, nós não, e foi por isso que eu comecei o texto assim, definindo nosso caso como não existente. No fundo ele existe, mas não acontece. Enfim, a situação real é essa: no frigir dos ovos, entre nós dois, hoje, não rola absolutamente nada, nunca rolou e, honestamente não sei dizer se algum dia vai rolar, porque cada vez que eu vejo uma declaração sua pro seu “namorado-perfeito” penso que os olhares, os sorrisos e o ‘alguma coisa inexplicável’ que eu citei lá em cima, são comportamentos unilaterais. Nesse caso, de mim pra você, mas que a contrapartida disso só existe de verdade na minha cabeça.

Sonhei contigo hoje (e não foi a primeira vez). Eu passava na sua casa pra te pegar pra sair, e conversava com a sua mãe na cozinha enquanto você terminava de se arrumar. Vocês tinham acabado de chegar lá de Sorocaba e ela me contava das travessuras dos seus primos no feriado. No momento em que eu ria das histórias, você entra, linda, deslumbrante com aquela saia longa de cintura alta esverdeada que eu adoro e diz "vamos?", com esse sorriso desconcertante que faz meus olhos brilharem. Eu elogio seu cabelo, você agradece, se despede da sua mãe, e a última coisa que eu me lembro é de ter ganho um beijo seu antes de chamar o elevador. 

Era sonho, né, claro, bobagem, eu tava só dormindo; mas eventualmente fico sonhando acordado com esses momentos mágicos, sabia? Me pergunto quando é que eu vou poder pegar na sua mão sem ter que disfarçar pra ninguém ver, ou quando te chamar, sem receios, pra correr comigo na orla e tomar uma água de côco no seu José vendo o pôr-do-sol alaranjado escurecer da areia. Quero aceitar seu convite pra ir à praia do sossego, mas poder dizer que prefiro ir só contigo, sem sua melhor amiga de contrapeso. E assumir, de uma vez por todas, que as aulas de dança que eu sugeri são só um pretexto inteligente pra sentir seu perfume mais de perto, e poder, ainda que por alguns minutos, atestar a sincronicidade dos nossos corpos num ritmo de constante envolvimento, sentindo a minha barba arranhar a sua bochecha.

Todas as noites eu te mando uma mensagem antes de dormir, e deito fantasiando cenas de uma relação impossível, que só pode virar realidade se você assumir pra si mesma que a gente tem tudo pra dar certo. Nós sabemos perfeitamente que o que tá acontecendo não é um encantamento pontual e passageiro, e que não vai desaparecer de hoje pra amanhã, meu bem, mas se a sua decisão continuar sendo a ‘indecisão’ eu posso apostar que não demora muito pra a gente perder o timing (se isso já não tiver acontecendo). E aí sim, vai ser o ponto final de um romance que nem começou; e o que sobra sempre nesses casos é só a dúvida (cruel e infinita) de “como seria se tivesse sido?”.

Querida, eu só queria que você tivesse um pouco mais de coragem pra seguir seu coração. Às vezes eu sinto que te falta atitude pra se posicionar de forma decisiva, e a maturidade, nesse momento, faz uma enorme diferença. Você pode dizer pra mim que a sua “síndrome do macaco gordo” te venceu e que prefere ficar parada no mesmo galho velho ao invés de conhecer o resto da floresta. Eu vou entender, e mesmo achando que você tá errada, vou embora, sem questionar, acreditando que você tenha boas razões pra essa escolha. Mas, por favor, não acaricia a minha mão, nem enrosca suas pernas nas minhas debaixo da mesa se realmente não quiser ficar comigo; não diz que meu sorriso te deixa meio ‘bobinha’, nem que a minha presença te faz acelerar o coração, se não vai escolher estar do meu lado de verdade; não me encara desse jeito que só você sabe, sorrindo e cheia de paixão nos olhos se não tá afim de viver uma relação verdadeira, e de corpo inteiro.

Eu estou a beira de me apaixonar, e assumo isso, mas me recuso a continuar vivendo um sonho sozinho. Você tem o que quiser de mim, eu já te disse, mas não vou continuar aqui disponível sempre que te for conveniente, sinto muito. Eu não mereço ser o reserva, e não quero ocupar esse lugar. Estive em modo 'Stand by' esperando por você até agora, mas me dei conta, no sábado, que seu namorado te faz muita falta, né, e que não há distancia que separe um amor verdadeiro, afinal. Tá certo, belas palavras, eu concordo contigo; e talvez isso tenha sido um sinal pra que eu me afaste aos poucos, antes de sofrer por uma coisa que nunca existiu.


Mas, cá entre nós, digo do fundo do meu coração idiota, confuso e atordoado: se ainda tiver procurando um parceiro de vida e viagem, de tapioca e chocolate, sushis e medalhões à piamontese, França e Espanha, trilhas e praias paradisíacas, Kelly key e Maroon 5, Blueberrys e brigadeiros de nutella, Natiruts e nascer do sol, Moscou e Nepal, sorvete de flocos e brigadeiro de panela,  Sana e Ilha Grande, bungeejumping e paraquedas, Ilhas Fiji e Cancún, vinhos baratos e um porco de estimação, diz de uma vez por todas que me quer como seu camera-man, e que me escolhe pra compartilhar os momentos mais divertidos e inesquecíveis dos seus vinte e poucos anos, de tanto charme e simpatia.

Matheus Fonseca Pinheiro



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